Às vezes, tudo dá errado.
Acabamos de votar e minha mulher sugeriu um franguinho grelhado do Galeto’s.
Por algum motivo, me lembrei do Galinheiro Grill e, pior, sugeri. Ela deu a estocada final: topou. Lá fomos nós.
Chegamos e ficamos uns dez minutos esquecidos. Então, o garçom começa a colocar os pratos sobre a mesa, suja.
Peço que limpe antes e recebo uma resposta azeda: só havia ele para cuidar de todas as mesas daquela sala, eu tinha que ter paciência.
Erro meu: como não percebi antes que estava sendo inconveniente? Onde já se viu querer que limpem a mesa antes de colocarem os pratos?
Mesa mais ou menos limpa, pratos dispostos. Fazemos o pedido. Uma salada média, um frango, uma porção de polenta, três sucos de lima da Pérsia. Polenta, esclarecemos, sem a montanha habitual de queijo ralado.
A salada demora, mas chega. Palmito, rúcula, agrião, tomate e cebola. Razoável. Não que valha os 31 reais, convenhamos. Por esse preço, podia ter pelo menos um molho.
A polenta demora e chega coberta de queijo ralado. O garçom diz que vai trocar. Demora e traz outra porção, sem queijo e encharcada de óleo.
O frango é que não vem. Não vem mesmo. O maître (ou algo assim: pelo menos tinha outro uniforme e mais autoridade) percebe nossa agitação e vem perguntar o que falta. Falamos da ave. Ele diz que vai ver.
E o frango não vem. Daí chega, com o comentário do garçom de que demorou porque estava sendo bem assado. Ah, tá.
Mas não estava. Veio meio cru.
Levanto, sob o olhar preocupado de minha filha, e vou falar com o maître (ou algo assim). Faço um breve histórico dos percalços. Ele ouve, pede desculpas e diz que vai trocar o frango.
E o outro frango não vem. A polenta, quase no fim. A fome, saciada com pão. A irritação, na contramão das bolsas, sobe.
Então a ave chega. Assada e coberta com o horrível tempero vermelho que tomou conta da cidade. Dá vontade de chorar. Mas apenas comemos. Pouco, bem pouco.
Minha filha come meia asa e desiste. Todos nós desistimos.
Pedimos a conta e que embrulhem o resto do frango. O garçom confirma se queremos mesmo “comprar a embalagem”. Queremos. Tem gente em SP que precisa comer algo, nem que seja essa comida. 80 centavos, a embalagem, que depois deixamos na mão de um pedinte.
O total da conta? Cem escandalosos reais. 2/3 do que se paga, por exemplo, no Sal Gastronomia ou no Picchi, se não tomarmos vinho. Com a diferença de que se come bem no Sal e no Picchi. E o serviço é decente.
Saímos de lá para não voltar. Na porta, a espera enchia a rua. Por quê? Acho que porque as pessoas gostam de comer mal e de serem mal tratadas. Não consigo achar outro motivo.
Na volta para casa, passo pela frente do Toro e do Maní. O coração aperta por lembrar como é bom comer bem e um olho enche d’água, talvez de irritação.
É, às vezes, tudo dá errado. E nem vou dar o endereço do Galinheiro Grill. Ora.
06/09/2011 às 20:57
Em uma pesquisa na internet, acabei conhecendo seu blog.Posso dizer que moro na regiao da Vila Madalena e que conheço o Galinheiro Grill desde criança.O que me deixa muito triste ao ler seu comentario de um Boteco que tem em sua tradição o delicioso frango na brasa e com um cardapio de uma comida tipica brasileira.Querendo comparar o Galhinheiro com um restaurante com uma comida japonesa,acredito que nao tem o que comparar pois sao alimentos totalmente diferentes.
Para um critico por assim dizer, e lamentavel.
06/09/2011 às 21:07
Maria,
tudo bem?
Não fiz qualquer comparação com comida japonesa.
O princípio (e critério) do blog é analisar a comida servida dentro, evidentemente, da proposta do lugar.
Qualquer comida (“típica brasileira”, caseira ou gastronômica) tem que ser boa. A polenta não pode vir encharcada, o frango não pode vir cru. Qualquer restaurante tem a obrigação de tratar correta e respeitosamente seus clientes.
Nenhuma dessas coisas ocorreu na visita que relatei – e em duas outras. Por isso foram refeições – para usar seu termo – lamentáveis.
Abraços!
07/09/2011 às 15:25
Ô mania que o povo tem que confundir tradição com qualidade!
08/09/2011 às 10:53
Parabéns pelo blog, sempre passo aqui pra ter alguma inspiração pra ir a restaurantes… ultimamente está bem dificil.
E tambem não vi nenhuma menção a qualquer restaurante japones neste post.. Defender um lugar por existir desde criança, não é um argumento muito forte. Eu como no brazeiro (o rei do tempero), desde que me conheço por gente, mas lá é bem irregular, às vezes bem gostoso, mas muitas vezes esturricado e acompanhamentos bem gordurosos, mas não deixo de ir lá, apostando na sorte.
08/09/2011 às 14:56
Klaus e MRCS,
é sempre interessante ver como há muito de subjetividade, e não raro de afeto, quando caracterizamos e analisamos cada lugar.
Abraços!