“Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.”
Há certos dias em que penso nesses versos de Manuel Bandeira, de “Não sei dançar”, e quero fazer uma paródia, sem mudar o sentido:
“Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo manzanilla.”
Todo mundo já teve momentos de tristeza e ela de fato bate, às vezes inesperadamente.
Ou nem tão inesperadamente, quando o corpo está moído, depois de horas à frente do computador.
Ou a cabeça exaurida, quase vazia, e não consegue nem ler, após quatro horas numa sala de aula.
Ou, sobretudo, tudo isso junto, num final de ano, quando o cansaço já se acumulou tanto que parece não haver saída.
Por isso, a manzanilla. Esse jerez de palomino fino, que está sempre na porta da minha geladeira e não pode faltar.
Porque a tristeza de fato bate. E não quero que ninguém tome éter, nem cocaína. Melhor a suavidade da manzanilla, que quase rima com alegria. Se possível a La Gitana, das Bodegas Hidalgo. Se for outra, também é bom.
Afinal, manzanilla (graças a Deus!) não tem gosto de festa, mas é melhor e mal não faz. Tem gosto de descanso e de alegria.
Acompanhada de um livro, então, nem se fala: é recuperação rápida na certa. Pode ser um Bandeira mesmo, para reforçar os versos.
Mas acho que a harmonização perfeita da manzanilla é com Louise Glück. Sei lá por quê. Devo ter pegado a mania de associar uma coisa com a outra.
Em todo caso, tente. E verá.
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