Foi num dos livros de Anthony Bourdain que li sobre o Prune.
Ele elogiava o restaurante, destacava sua releitura da comida americana tradicional, a ótima relação custo-benefício.
Principalmente lembrava que a chef, Gabrielle Hamilton, havia feito de tudo na vida, antes de trabalhar na cozinha. Isso incluía – sempre segundo Bourdain – uma temporada como stripper e alguns crimes de pequeno e médio porte.
Irresistível.
Reservamos e fomos. O restaurante, no East Village, é minúsculo. Apertadinho. O salão é menor que a sala da minha casa e a cozinha, muito menor que a minha. Mesas e pessoas quase se sobrepõem. Até onde vimos, fora o barman, só mulheres trabalham lá.
Chegamos às 19 e às 19h30 estava abarrotado de gente. Americanos, aliás, vão a restaurante em hora decente. Almoçam ao meio-dia e jantam às 19. Muito restaurante fecha às 22. Nada dessa mania paulistana de comer às 2 da manhã.
Veio o couvert. Simples e promissor: pão fino frito com kümmel. Picante na medida.
De entrada, timo de porco empanado com bacon e alcaparra. Papagaio! Uma das melhores coisas da viagem, da vida. Minha mulher, minha filha e eu disputamos cada pedacinho. Assim, cada um de nós ingeriu cerca de vinte mil calorias – das melhores calorias do mundo. E antes do prato principal.
Minha mulher pediu, como principal, um capão assado com croutons de alho e especiarias. Forte, picante. O alho ficou na memória por uns dias, mas o capão estava saboroso, tenro, maravilhoso.
Minha filha e eu dividimos fatias de cordeiro cozido, acompanhado de batatas grelhadas (inteiras, com casca) em molho de cordeiro e alho-porró. Meu Deus… O alho (não só o porró) se manifestava e também deixou marcas fundas na memória. Mas o cordeiro era uma delícia.
Para a sobremesa, minha filha quis o sorbet de limão com coco e suspiros; minha mulher, o creme de Earl Grey com biscoito de gergelim e caramelo cristalizado. Ambos ótimos. Mas o meu bolo de gengibre com chocolate era demais…
Bebemos um Rhône simples e agradável por 48 dólares.
A conta ficou nos 140, incluindo o expresso, o suco de cranberry de minha filha (isso virou um vício; agora, toca achar suco de cranberry por aqui) e a gorjetinha de 20%.
O único lado ruim da visita é que, em meio ao ajuntamento e à tremenda confusão do salão e da cozinha, não consegui – vejam que coisa! – identificar a chef. Mas acho que ela fez bem em mudar de carreira.
Prune
http://www.prunerestaurant.com/
06/02/2009 às 20:42
Caro Comilão boa noite, tudo bem?
Os relatos tem-me deixado com água na boca, mas o que tem chamado a atenção é o paladar de sua filha. Parabéns por ter conseguido educá-la a experimentar. Tentei isto com minha, que está com 20 anos, e tive pouco êxito . Só agora ela animou-se a ser um pouco mais ousada.Tenho um filho que nasceu faz três meses e quem sabe eu não tenha mais sucesso com ele. Se não der certo posso pedir uma ajuda a você.
Abraço
08/02/2009 às 18:03
Ricardo,
tudo bem?
Pois é. Minha filha é uma menina especial. Claro que sou suspeito para falar…
Hoje ela tem nove anos, mas, desde pequena, insistimos para que provasse de tudo. Ela tem seus limites, claro, e seus gostos. Não gosta, por exemplo, (veja que coisa!) de mamão. É alucinada por peixes, ostras e, para minha alegria, pato. Acho que várias coisas contribuíram para isso. Minha mulher e eu comemos de tudo (ou quase tudo) e, sobretudo, gostamos de experimentar. Quando Lia era pequena (um ano e meio/dois), moramos um breve período fora do Brasil e isso acabou ajudando a fazer com que ela experimentasse coisas novas e freqüentasse muitos restaurantes.
Enfim…
Uma das coisas, porém, mais espantosas nessa história de criança em restaurante foi o que vimos agora em NY. Nenhuma criança em nenhum restaurante a que fomos. Não é modo de dizer. Nenhuma mesmo. Os garçons, ao vê-la, em geral ofereciam um cardápio especial (quase sempre, hamburguer ou nuggets) e, depois, se surpreendiam e ocasionalmente vinham comentar a surpresa de a verem comendo “comida de adulto”. Ainda escreverei um post sobre o assunto, mas confesso que não deu para entender.
Boa sorte por aí.
Mas nunca é tarde para começar a comer bem. Eu, pessoalmente, comecei bem mais tarde do que minha filha. Mas essa é outra história.
Abraços!
08/05/2013 às 14:39
Alhos, boa tarde. Tive a mesma curiosidade sobre a referida chef após ler o livro do Bourdain. Agora, procurando por relatos de brasileiros que foram ao restaurante dela, me deparo com o seu, no provável único post que eu não tenha lido aqui no blog, hehe.
Inclusive comprei a autobiografia da Gabrielle, que é sem dúvida um dos melhores livros sobre o mundo da cozinha, fugindo bastante do trivial, onde ela reafirma muitas das histórias do Bourdain. como somos quase vizinhos, se quiser posso lhe emprestar o livro.
Na próxima visita a NY, o Prune não em escapa.
Grande abraço.
11/05/2013 às 11:29
Lucas,
tudo bem?
Obrigado pela oferta. Li o livro da Hamilton quando saiu; é muito divertido e bem montado.
Prune é necessário. Minúsculo, coerente, sólido e delicioso.
Abraços!