Fazia tempo que não íamos ao Sal – que minha filha define como seu restaurante favorito.
Logo na chegada, ela soube que não havia os chips de alho-porró do couvert, mas absorveu bem o golpe.
Começamos com uma ótima entrada de pupunha grelhado. Tenro, adocicado, saboroso.
Uma longa espera – mais de 50 minutos – para os pratos principais: a fritadeira quebrou, desculpou-se o garçom. Enquanto isso, vinho e couvert reposto.
Quando os pratos chegaram, o chef veio à mesa repetir as desculpas pela demora. Ok, problemas acontecem. Mas a prova dos nove, claro, era a comida.
Minha mulher e minha filha comeram o salmão com crosta de pistache, calda de cardamomo, acompanhado de risoto de grãos e aspargos frescos. Ótimo, o risoto. Mas o peixe estava um pouco seco. E o cardamomo, inexpressivo.
A curiosidade é que já havíamos comido esse prato antes e o problema fora o oposto: excesso de cardamomo, encobrindo o sabor do salmão. Mudou, talvez demais.
Meu cunhado pediu o atum em crosta de gergelim, com molho teryiaki, arroz negro, pupunha e tomate. É um clássico do Sal, sempre impecável. Felizmente, continua assim.
Para quebrar o tom marítimo da mesa, meu sobrinho foi de cupim na manteiga de garrafa, com mandioca e farofa de banana. Macio e saboroso.
Eu estava curioso por meu prato.
Mas talvez estivesse ainda mais ansioso para provar o que minha irmã pediu: o filhote.
Já o tinha provado em novembro passado e achei que precisava de ajustes. Recebeu. A carne do peixe continua fabulosa e servida no ponto.
O purê de banana da terra, que na outra visita veio pesado e excessivamente cremoso e untuoso, agora estava mais leve, delicado, e com muito mais gosto de banana. O coentro, excessivo em novembro, veio na dose certa, sem impor sua força ao peixe. E os mini-legumes, ótimos.
Ou seja, o filhote mudou na dose certa e para bem melhor. Ufa!
E meu prato? Bem, nunca o tinha provado. E saí de lá com a impressão de que foi a melhor coisa que comi até hoje no Sal, em inúmeras visitas: tentáculo de polvo com batata salteada e brócolis no alho. Macio, forte, gostoso. Muito gostoso. Tremendamente gostoso. Falar mais o quê?
Poderíamos ter dispensado as sobremesas, de tanto vinho (três garrafas, com praticamente apenas três bebedores) e tanta boa comida.
Mas fomos em frente. Não havia a melhor delas: o charuto crocante de banana. Pedimos o carpaccio de abacaxi e o garçom avisou que ele também não poderia ser preparado: problemas com o próprio abacaxi, muito azedo.
Veio então o bom, mas exageradamente (e bota exageradamente nisso) doce, brigadeiro com castanha do Pará e sorvete de paçoca.
Para horror de minha mulher, que detesta sagu, pedi as ovas de sagu com leite de coco, frutas e calda de maracujá. E gostei: fresco, não muito doce, delicado. Sem contar que sagu me lembra a comida de minha avó.
Desde nossa primeira visita ao Sal, passou muito tempo. E muita coisa mudou por lá. O lugar foi reformado e ampliado, o chef ganhou prêmios, o restaurante agora fica lotado.
A principal mudança, porém, é mais lenta e mais importante: a cozinha mostra cada vez mais solidez, os pratos passam por pequenos ajustes e melhoram.
Maturidade talvez seja a palavra-chave. Algo pouco comum nos restaurantes paulistanos, que duram pouco ou perdem o eixo ou sobem descontroladamente seus preços.
Por isso, e cada vez mais, minha filha tem razão ao elegê-lo seu restaurante favorito.
Rua Minas Gerais, 350, Higienópolis, SP
tel. 11 3151 3085
Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Sal
15/02/2009 às 21:46
Olá Comilão, tudo bem?
Fui ao Sal a semana passada e comi o filhote e o sagu de sobremesa, os dois estavam muito bons mesmo. O lugar é simpático só que clean demais. Parece-me que as vezes gasta-se uma fortuna com decoração mas o aconchego, o calor, a alma ficam em segundo plano. Sinto isto também no D.O.M., assim como foi um choque quando o Le Coq Hardy saiu da Adolfo Pinheiro e foi para perto do Iguatemi. Pareceu-me que a identidade, ou alma, do restaurante ficou em Santo Amaro. A primeira vez que comi um suflê, foi no Marcel, perto do Hilton, inesquecível.Também não consigo imaginar o La Casserole em outro endereço.Sei não, ou sou saudosista demais, ou preciso rever meus conceitos.
Abraços
16/02/2009 às 17:46
Ricardo,
tudo bem?
Concordo com você quanto à necessidade de um ambiente acolhedor. Imaginar o Casserole em outro lugar é mesmo impossível.
No Sal, especificamente, me sinto bem. Gosto do jeito como o espaço foi organizado, da proximidade com a galeria. Acho que há acolhimento no jeito clean de lá.
O que me incomoda muito em restaurantes é barulho (música alta, por exemplo) e excesso de obscuridade. E há muitos que são assim.
Abraços!
16/02/2009 às 18:02
Olá,td bem?
Acho que descobri quem é meu assíduo cliente comilão. Pelos pratos e pelo dia que quebrou a fritadeira….
Legal saber que vc conhecia o sal desde o começo, é uma história bonita e muito divertida. Bem surreal. Aquele espaço, o serviço…afe.
Sabe que as críticas são muito positivas. E as suas têm sido muito legais, bem próximas de como o Henrique pensa. (Aliás concordo com vários comentários seus de outros restaurantes)Quando vc falou do filhote ele já estava incomodado com o purê, com o peixe, já queria tirar do cardápio. Mas ele insistiu, absorveu seus comentários e parece que melhorou. Muito bom saber.Acho que esse é um amadurecimento dele. Trocar, saber o que tá exagerado, o que é da personalidade dele, o que pode ser melhorado.
Claro que tem críticas que o Henrique não concorda e não muda (as minhas por exemplo)…Agora ao salmão!
Ah, e as batatinhas do polvo, vc gostou? Vinha reparando que estavam sobrando muitas no prato e não sabia se era pq eles colocam muito (o Herique é farto) ou se não era lá essas coisas…
abs
Fernanda
16/02/2009 às 18:46
Fernanda,
esse é o problema de escrever logo o comentário. Houve uma época em que eu esperava semanas antes de escrever; agora, apressei. Da próxima vez coloco uma peruca cacheada, como fez a Ruth Reichl ao visitar o Daniel.
Mas bom que as críticas ajudem e que façam sentido. E ainda bem que não tiraram o filhote do cardápio. Ufa!
Gostei das batatinhas do polvo e não deixei sobrar, não. Só lamentei que não viessem mais cinco tentáculos, para comer o polvo completo…
Abraços!
16/02/2009 às 19:06
Comilão,
Se o que te incomoda é musica alta e excesso de obscuridade melhor não ir ao Arturito da Paola Carosella. Algumas pessoas reclamaram, através de blogs, e ela disse que ia mudar, não fui conferir ainda. Em tempo, a comida continua boa, mas o Julia deixou saudades.
Abraços
PS: Você está ficando famoso hem?? Quanto a peruca não vai adiantar, é só observar o que a menina de 9 anos está comendo.
16/02/2009 às 19:11
Pois é, Ricardo, ainda não fui conhecer o Arturito exatamente por isso. Acompanhei a polêmica no blog do Julio Bernardo e no Bicho. Inclusive a resposta dela ao pessoal do Bicho. Mas uma hora vou lá.
Vou ter que colocar peruca na minha filha, também. E salto alto, para ultrapassar o 1,30 que ela tem.
Abraços!