Pode parecer incrível, mas é difícil comer boa massa em São Paulo.
Fora os grandes (e caros) restaurantes italianos, conto três ou quatro casas que nunca me decepcionaram no ponto da massa, no molho ou, mais comum, em ambos.
Uma delas é o Zena Caffè, que homenageia a cidade de Gênova no nome e que já teve uma ótima trofie, massa típica da Ligúria. Tiraram do cardápio e, cada vez que vou lá, sonho reencontrá-la. Ainda não consegui.
Enquanto isso, fico com a salada de folhas verdes, frutas e flores, que recebe molho bem dosado de balsâmico, azeite, mel e pimenta rosa e varia os ingredientes conforme a estação. Na última vez, tinha alface, rúcula, rúcula italiana e endívia, manga, morango, kiwi e figo. Bolinhas de queijo de cabra e chips de presunto cru acompanhavam e davam um toque agradável de sal.
As foccaccie e as bruschette são boas e a única decepção fica por conta dos arancini com mix de cogumelos, uma boa idéia que resulta numa porção simpática de mini-bolinhos, mas de sabor inexpressivo.
Mas voltemos às massas porque são elas que importam. Principalmente se for o prato de trenette ao pesto. Mais lígure, impossível. E precisa no ponto da massa e no equilíbrio do molho. Os pinoli e o manjericão (cultivado em vasos à vista do cliente) têm aquele sabor que nos lembra por que a culinária italiana é inesquecível, por que tem a solidez de séculos. Solidez que nenhum espanhol metido a cientista vai abalar.
De sobremesa, a focaccia doce com pêssego é agradável, mas não empolga. Deliciosa é a sacripantina: pão-de-ló embebido em café e licor, com creme de mascarpone.
A única coisa que falta, no Zenna (além, claro, da volta da trofie), é uma oferta mais diversificada de vinho em taça (os três ou quatro rótulos normalmente oferecidos não empolgam) – inclusive italianos e de sobremesa. No site constam rótulos de vinsanto e de passito di panteleria, mas não havia em nenhuma das visitas.
O serviço é bastante gentil e simpático, apesar de inexperiente, e o ambiente, que combina o visual de restaurante com o de empório (felizmente sem afetação), é agradável, tanto na parte externa quanto na interna.
Sobretudo: ajuda a aumentar a limitada lista das casas que servem boa massa (e, no geral, boa comida italiana) a preço não-astronômico. O que não é pouco e nos faz pensar que, afinal de contas, é possível comer massa de qualidade relativamente em conta numa cidade que tem dezenas de restaurantes italianos, mas pouquíssimos que prestam.
Rua Peixoto Gomide, 1901, Jardim Paulista, SP
Tel. 11 3081 2158
Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Zena Caffè
11/10/2009 às 10:00
Alhos,
Que salada é essa???Isso é uma entrada ou sobremesa????
Chips de presunto crú = Assasinato de ingrediente!!!!
Abraço
11/10/2009 às 11:28
Ricardo,
tudo bem?
A salada de frutas e flores é servida (como vários itens do cardápio) em dois tamanhos, podendo servir de entrada ou como uma refeição leve.
Pessoalmente, gosto muito de frutas e de molhos adocicados em saladas.
Em tese, concordo que presunto cru não é coisa que se aqueça – até por uma questão de estilística: para evitar o oxímoro. No entanto, achei (com alguma surpresa, sim) que deu certo – até para contrastar com a textura dos demais componentes da salada. Ou seja, sugiro que prove – e depois me diga o que achou.
Abraços!
24/10/2009 às 15:34
Caro Alhos,
a trofie voltou. 😉
Quanto ao comentário do Ricardo sobre o prosciutto sou obrigado a discordar, lembrando que uma das mais tradicionais receitas italianas (Saltimbocca alla Romana) é feita basicamente tostando o lado onde se coloca a fatia de presunto cru e sálvia.
Abs!!!
24/10/2009 às 16:10
Em tempo…obrigado pelo post. Estou de olho no arancini…aguarde!!! 😉
25/10/2009 às 17:03
Carlos,
tudo bem?
Obrigado pelo esclarecimento e pelo retorno da trofie! Assim que puder vou lá provar.
E os arancini… Também sempre testo – não resisto.
Abraços!
25/10/2009 às 19:32
Chef Carlos,
Está querendo me convencer que presunto crú em forma de chip’s é bom????
Só percebo o gosto do sal!!!!Textura e sabor…ZERO!!!!
Lembre-se que no Saltinbocca, o presunto fornece(gordura) sabor á carne, e o suco da carne fornece umidade ao presunto.É muito diferente de um chip’s.
Sugiro que vá até Parma, compre uma peça de “San Danielle”, fatie bem fininho , faça seu chip’s e distribua para os Italianos….Eles vão adorar!!!!
Abraço
27/10/2009 às 08:53
Ricardo,
tudo bem?
Acho improvável que se use San Daniele para chips… rs.
Mas sugiro que prove o da salada de frutas e flores: creia, fica bom.
Abraços!
28/10/2009 às 17:33
Acho engraçado termos mais preconceito com certas coisas que os próprios italianos.
Ao contrário do que se imagina os italianos fazem isso e não é crime algum. Para ilustrar o que já vi muito por lá, encontrei esse site do consorzio do Parmigiano Reggiano com uma salada feita com Parma “crocante”.
http://tinyurl.com/yzgpvpg
Massimo Bottura, chef que respeita e utiliza basicamente produtos da sua região como o Parmigiano, o Prosciutto, o Lambrusco, e o Balsamico de Modena, faz uma “massa” com caldo de Prosciutto e Agar-Agar.
A titulo de curiosidade San Daniele é a denominação do Prosciutto de outra região, Friuli.
Abs,
Carlos
28/10/2009 às 17:40
Carlos,
queria muitíssimo provar a comida do Bottura.
Quem sabe um dia?
Abraços!
30/10/2009 às 06:36
Chef Carlos,
Não se trata de preconceito e sim de paladar, o chip’s transforma o presunto em um pote de sal, isso é total falta de respeito ao ingrediente.
Fazer caldo ou emulsão é muito diferente, pois utilíza-se de sobras.
Abs.
30/10/2009 às 10:20
Ricardo,
para além da discordância, que tal os dois celebrarem as pazes com um belo prato de presunto cru. Meio a meio: cru-cru e cru-chip.
É meu esforço para ganhar o Nobel da Paz; afinal, se o Obama pode por que não eu, ora? rs
Abraços!
30/10/2009 às 12:01
Seu alhos,
Estou em paz, é que adoro fazer um debatezinho com o Carlos, ele argumenta muito bem.Sou cliente do Zena e já conversei com ele, adoro o ambiente, o atendimento e o lugar.Bottura, Carlos, Salvatore,Ducasse, Gordon, ninguém me convence que Chip’s de P.C. é bom, tenho total segurança no meu paladar.
Abraços.
31/10/2009 às 08:35
Ricardo,
então, vá lá e peça uma porção só para provocar o chef… rs.
Abraços!
02/11/2009 às 11:55
Ricardo,
pro chips ficar bom é só usar um bom Parma ou San Daniele, de preferencia bem envelhecido. E não estou brincando.Chips muito salgado é feito com prosciutto de segunda nacional. hehe.
No caso, aqui eu uso um prosciutto crudo da região da Valtellina.
Não se trata de falta de respeito ao ingrediente.
Bottarga não é praticamente um chips de ovas??? Não fica bem salagda? Ninguém vai sair comendo um pacotinho de bottarga, seu sucesso depende da receita onde for empregada.
Falta de respeito ao ingrediente eu vi num desses estrelados que trabalhei…mas essa eu só conto ao vivo, saboreando com você uma porção de chips de prosciutto com uma bela taça de Manzanilla 😉
Grande Abraço,
Carlos
02/11/2009 às 16:35
Opa, manzanilla?
Abraços!