O nome do chef não poderia ser mais simbólico: Gennaro del Vino.
Gennaro, santo protetor de Napoli.
Vino, santo de toda parte.
Gennaro del Vino é chef da Cantina del Sole, no centro histórico da mais caótica cidade que já visitei.
Fomos lá duas vezes. Na primeira, optamos pelos menus-degustação de terra e de mar: saladinha verde, entrada, prato principal & sobremesa.
Minha filha e minha mulher preferiram o mar de Napoli; eu me mantive aterrado ao solo vizinho do Vesúvio.
O menu de mar iniciava com pasta ai frutti di mare, com uma quantidade incrível de vongoli fresquíssimos. Arrebatador.
Prosseguia com uma dorata grigliata simples, boa, precisa: mar sólido deslizando pela boca.
Meu menu da terra abria com um gnocchiete de abóbora e provola: daquelas massas que, haja o que houver, você não esquece.
E o prato principal, ah, o principal, era composto de uma lingüiça rústica, caseira, acompanhada de mil-folhas de berinjela e molho de tomate ácido no início, adocicado ao final. Tomate a ser celebrado em prosa e verso. Lingüiça fabulosa, paradoxalmente carnuda e delicada.
Os doces foram torta caprese com chocolate amargo e amêndoas e pannacotta com frutas vermelhas. Boas? Não, ótimas. A delicadeza da pannacotta devia ser ensinada via satélite a todos que a servem mundo afora.
Nesse dia, tomamos um Irpinia Aglianico de Vila Raiano 2003 que fez bonito sem inflar a conta. Na sobremesa, Donnafugata Moscato di Pantelleria Kabir, que era pêssego, pêssego e pêssego.
Claro que voltamos, dias depois, quando tínhamos que nos despedir de Napoli.
Dessa vez, fomos pelo cardápio, mas mantivemos o vinho, só variando o produtor: Irpinia Aglianico Tauri 2006, de Antonio Caggiano. Não empolgou como o anterior, mas não fez feio.
Comemos um pouco de tudo.
De entrada, um delicioso robalo defumado com finnochieto. Depois, repetimos a incrível pasta con frutti di mare.
Pedi uma vitela na grelha, perfeita, que tinha a simplicidade a que só se arrisca o chef que tem consciência da qualidade de seus ingredientes.
Mas o astro da noite foi o linguini ao Vesúvio, com camarões, vongoli, pinoli, abobrinha e passas. Decisivo.
Fechamos com uma quase overdose de pannacotta com frutas vermelhas, acompanhada de moscato di Pantelleria da Vinícola Miceli-Tanit.
Napoli pode até ser um caos ininterrupto. Mas, sob a proteção de San Gennaro e com a cozinha de Gennaro del Vino, bem que vale a pena.
Cantina del Sole
Via Giovanni Paladino 3, Napoli
22/02/2010 às 23:26
Se passarem por Amalfi, não deixei de conhecer o Zaccharia, o restaurante que fica no lugar mais improvável do mundo e que, para os que tem a sorte de conhece-lo, faz a melhor cozinha da região. Vá no menu, diga que foi indicado pelo Miguel Reale Jr., e escolha entre branco ou tinto. Se não for o melhor jantar/almoço da viagem, eu pago a conta…. Passando o Luna Hotel, ao lado do tunel… (Da Zaccaria also piqued my interest when I saw it mentioned on MArio Batali’s site. It is next to the tunnel connecting Amalfi with Atrani). http://www.mariobatali.com/exploreitaly_campania.cfm
24/02/2010 às 11:43
José Luiz,
obrigado pela dica.
Desta vez, já voltei; na próxima, a aproveitarei.
Abraços!