Estávamos prestes a embarcar para a Sicília no final de 2009, quando chegou pelo twitter uma sugestão de Raphael Despirite, chef do Marcel: que não deixássemos de conhecer Il Cuciniere, restaurante do hotel Katane Palace.
Dois dias depois de chegarmos a Catânia, era aniversário de minha mulher. Onde comemorar? Ora…
Cruzamos a pé o centro velho da cidade e lá estavam hotel e restaurante. Salão simples, sem excessos, serviço destituído de qualquer afetação. No cardápio, além dos pratos habituais, um menu degustação “para divertir o cozinheiro”. Achamos que também nos divertiríamos e pedimos a versão completa para nós e a reduzida para nossa filha.
O couvert tinha apenas o necessário: pães crocantes com azeite e manteiga.
Minha mulher e eu abrimos o jantar com um tartare de Saint Peter com camarão. Saborosos, fresquíssimos e delicados, era temperado com uma “essência de flor seca e moída”. Sei lá que flor era; sei que intensificava o frescor do prato e dava um ligeiro e agradável picante.
Para minha filha, a entrada foi o atum cru, envolvido num rolinho de finíssimo peixe-espada, rúcula, romã e molho de tangerina. Novamente o tom era dado pela valorização dos sabores dos ingredientes, sem anteparos ou mascaramentos.
Enquanto minha filha se divertia com as intermináveis romãs, chegou nosso segundo prato, uma variação do primeiro dela: carpaccio de espada ligeiramente defumado, marinado em gengibre, romã e tangerina, acompanhado de rúcula. Peixe delicioso, marcado pela sutileza. E a experiência de mastigar simultaneamente a romã, a tangerina e a rúcula, misturando texturas e sabores.
Nossa terceira rodada tinha mousse de bacalhau e tupinambo, acompanhada de couve — romã e tangerina, também presentes, reforçavam a unidade visual entre os pratos e mantinham a toada de frescor e intensidade de sabores. Simultaneamente, a segunda rodada de minha filha trouxe um cherne, suculento e servido no ponto, com batata e espinafre.
Na sequência, zuppa di mandorle e vongoli al basilico. Cosa dire? Além do óbvio apelo à tradição (tudo estava ali: amêndoa, vôngole e manjericão), a delicadeza de uma cozinha que serve sopa cremosa no quarto giro e sabe que ela só aliviará a refeição.
O terceiro prato de minha filha, quinto nosso, era idêntico: fagotini di calamari al nero di seppia com salsinha e pequenos (e intensos) camarões. Foi o mais picante dos pratos, mas não exagerava. Tanto que nem chegou a incomodar nem o paladar mais resistente a temperos de minha filha. Massa deliciosa, lula deliciosa, nero di seppia delicioso…
O fechamento para nós três veio com uma incrível rana pescatrice com alcachofra e purê de alecrim. Meio sem fala, murmurei agradecimentos ao chef. E ao mar da Sicília.
Mas faltavam as sobremesas.
A tortinha de chocolate com recheio derretido e calda fina de ceratonia era delicada, marcada pelo contraste agradável entre a fluidez da calda e a cremosidade do chocolate. A pêra caramelada com pistache, panna e raspas de tangerina reunia acidez com frescor e mantinha os cinco sabores em harmonia.
Minha filha tomou um sorvete de pistache que parecia sair direto da casca, tal a força do gosto do grão.
Fechamos com duas taças (para cada um, claro) do moscato di pantelleria Mueggen de Salvatore Murana, que tinha gosto de pêssego, pêssego e… pêssego.
Na rua, caminhando de volta ao nosso hotel, agradecíamos a indicação ao Raphael Despirite e ainda sentíamos o gosto do moscato, o sabor de mar dos peixes, o prazer de uma refeição bem feita.
Vivíamos, principalmente, um daqueles momentos breves, raros e tão intensos em que, junto com a alegria de estar na Sicília — e em plena comemoração de aniversário —, pressentimos a razão de tudo.
Il Cuciniere — Katane Palace
Via Finocchiaro Aprile, 110, Catânia, Itália
30/03/2010 às 13:56
Boa Tarde, tudo bem?
Sou jornalista e faço parte da equipe de um grande portal que está sendo desenvolvido e será lançado nos próximos meses.
O portal se chama “ÉSEU” e será um guia de entretenimento e relacionamentos pessoais e profissionais. O conteúdo jornalístico do “ÉSEU” será dividido em matérias, dicas e notícias, que abordarão diversos assuntos, como: gastronomia, turismo, passeios, shows, arte e cultura, bares e baladas, moda e beleza, social e meio ambiente, entre outros.
Atualmente, buscamos blogueiros que possam escrever parar o portal. Lemos seu blog, e gostamos muito da maneira que você escreve e do conteúdo que é disponibilizado.
Gostaríamos de conversar mais com você, pois temos interesse em colocar, no portal, matérias, de sua autoria, sobre o conteúdo feminino que vimos em seu blog.
Assim que possível, entre em contato comigo pelo e-mail jornalismo@eseu.com.br ou, se preferir, envie seu telefone ou outra forma de contato para conversarmos mais a respeito.
Atenciosamente,
Carla Costa
30/03/2010 às 14:24
Carla,
não entendi bem esse negócio de “conteúdo feminino”. Comida?
Abraços!
31/03/2010 às 10:46
Conteúdo feminino é ótimo.
31/03/2010 às 11:24
Você gosta de pizza??
Então, venha conhecer meu blog! Aqui vc encontra TUDO sobre a “redonda”!
Aguardamos vc!
Abs.
ADOROO PIZZA!
01/04/2010 às 16:50
Ahaha! Gostei do comentário sobre o conteúdo feminino!!
Quanto ao post, mais uma vez muito bom.
Me tira uma dúvida: tupinambo e tupinambor são a mesma coisa?
E ambos são exatamente o que?? 🙂
Comi o tal tupinambor como um acompanhamento na Osteria Francescana do Massimo Bottura, mas dei uma googlada e só achei um tubérculo!
Abs.
01/04/2010 às 18:37
Edu,
obrigado.
Acho que é a mesma coisa, sim.
Tupinambo é um tubérculo mesmo. E o nome vem dos tupinambá; nativo daqui.
Na mousse de bacalhau que comi ele ocupava o lugar da batata, com um toque mais adocicado.
Lugar onde queria comer é na Osteria do Bottura. Que tal?
Abraços!
02/04/2010 às 10:47
Alhos,
Foi simplesmente o máximo (com trocadilho).
Eu postei sobre a experiência e, inclusive com a ajuda indireta do Atala, ganhamos um livro dele autografado.
Quando tiver um tempo, dê uma olhada no http://eduluz.wordpress.com/2008/12/01/massimo-bottura-osteria-francescana-modena-italia/
Abs e boa Páscoa.
02/04/2010 às 11:51
Edu,
que maravilha – refeição e relato.
Inveja da boa…
Abraços!
02/04/2010 às 20:02
O lance do “conteúdo feminino” foi de uma desconsideração extrema como relato que você escreveu… quase pude sentir o sabor da refeição aqui.
02/04/2010 às 22:37
Adrina, Joaquim, Edu,
acho que a mensagem foi genérica, despachada para vários blogs e independente do conteúdo específico de cada um.
Abraços!
03/04/2010 às 22:29
Que vontade de viajar para paraísos gastronômicos como esses! Algum dia a gente consegue…
Linkamos vocês no Fast Food de Pobre, dêem uma olhada!
03/04/2010 às 22:46
Adriana,
tudo bem?
Obrigado pelo link.
Sim: vamos tentando, vamos buscando. Uma hora, conseguimos.
Abraços!
02/08/2010 às 10:51
Meu primeiro comentario
Foram felizes na combinação de bacalhau e topinambur, a leve lembrança a alcachofra e sua textura remete a batata. Sem falar do toque cítrico!!!. Recordei daquele típico prato Esqueixada de bacallà, boa idéia!!!! hoje ser[a meu almoço.
02/08/2010 às 19:03
Giovanni,
tudo bem?
Obrigado pelo comentário.
Espero que tenha aproveitado o almoço! rs
Abraços!
09/05/2011 às 14:29
Caro Alhos,
Farei uma viagem para a Itália e queria que você me passasse umas indicações de restaurantes, afinal você é minha fonte mais confiável…rs
Estaremos na Toscana (principalmente Firenze e Montalcino), em Roma e na Sícilia (Taormina, Cefalù).
Abraço e obrigado!
10/05/2011 às 08:37
Pedro,
tudo bem?
Obrigado.
Mas infelizmente não tenho muito a lhe dizer. Raramente vou a restaurantes mais bacanas quando viajo; em geral, prefiro ir descobrindo lugares mais baratos.
Para piorar, não conheço Montalcino nem Cefalù e passei apenas um dia em Taormina, comendo em botecos de rua (arancini em profusão).
Se não bastasse, faz muitos anos que não vou a Firenze (desde 98). Lembro de uma trattoria simples, mas muito agradável, Baldovino, que fica na via dei Malcontenti (perto da Igreja de Santa Croce). Saindo da praça da Santa Croce em direção ao Ponte Vecchio, fiz minha melhor refeição em Firenze, na Trattoria Pallotino (via Isola delle Stinche). Igualmente simples, tem grandes mesas, onde as pessoas se sentam juntas. Lá, no dia da final da Copa de 94 (Brasil e Itália, diga-se de passagem), comi a melhor vitela de minha vida.
Para Roma, a dica óbvia é La Pergola, do Heinz Beck. É preciso reservar com alguma antecedência. Lembro com carinho de um pequeno e curioso restaurante em que comi, mais de uma década atrás: L’Arcano, bem próximo do Partenon. Ciampini, na Piazza Navona, é meio caro, mas muito bom. Além disso, tome muitos sorvetes por lá. Também foi em Roma, numa portinha de uma rua lateral ao Vaticano (à esquerda de quem olha a Basílica de frente, ao lado da entrada), que tomei o mais incrível sorvete de minha vida.
Enfim, desculpe-me a precariedade e a imprecisão das informações. Resta reiterar a dica: exceto pelas imediações de pontos turísticos, é difícil comer mal na Itália e é divertido fuçar um pouco, entrar naqueles lugares improváveis, sem menu escrito.
Boa viagem e, se puder, depois conte como foi.
Abraços!
11/05/2011 às 07:51
Muito obrigado pela atenção, as dicas estão anotadas. O espírito é esse mesmo, explorar as cidades em busca de boas surpresas.
Depois escrevo contando como foi.
Grande abraço!
16/05/2011 às 09:08
Pedro,
boa viagem!
Abraços!