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Cinco

25/01/2014

 

O Comida (Folha de S. Paulo) da última quarta-feira, dia 22/1, reuniu dicas de diversas pessoas, numa comemoração do aniversário de São Paulo.

 

Minhas dicas estão aqui, na versão abreviada pela edição do jornal.

 

Abaixo, o texto integral:

 

 

1.

Ali, na mesa para duas pessoas que fica ao lado da janela, com uma boa cerveja, um bom chopp e um prato de bolinho de virado à paulista na frente: o Aconchego Carioca-São Paulo não está no bairro do Paraíso, mas fica muito perto de meu paraíso pessoal.

 

2.

Ao contrário do que muita gente pensa, o Marcel não se resume aos suflês (embora eles sejam ótimos). Nas mãos de um dos grandes chefs de São Paulo, tem o menu degustação de melhor relação custo-benefício da cidade. E tem o incrível suflê (voltamos a eles…) de cupuaçu, que combina a tradição francesa com algo de Brasil.

 

3.

Repare na poltrona. Repare na música. Repare na, digamos, atmosfera. Repare: são raros os bares de São Paulo com o charme e o estilo do Admiral’s Place, que, com poucos meses de vida, já é clássico. E, depois dos whiskies e dos drinques, ainda dá para descer a escada e comer o nhoque de mandioquinha com ragu de javali do Sal Gastronomia, uma massa categórica e contundente.

 

4.

Uma entrada. Mas você pode pedir porção maior, como prato principal. Ou porção dupla, tripla, quádrupla. Porque a moela confitada com fígado de frango e uvas, flambados na grappa, não é apenas um dos melhores pratos da Tappo Trattoria. Depois que se come pela primeira vez, vira uma necessidade do dia a dia.

 

5.

Você tem um sake para chamar de seu? Eu tenho. Chama-se Nakadori Zaku Miyabino Tomo. Quem indicou foi o Alexandre Tatsuya Iida, mais conhecido como Adegão, da Adega do Sake. Bateu o olho clínico em mim e, paft!, sugeriu. Quando tomei, custei a acreditar: era uma versão minha, só que bem melhorada e engarrafada.

 

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Kampai

26/10/2013

 

Este post é uma homenagem.

 

Homenagem e agradecimento, ambos necessários.

 

Porque os dias atuais, bem sabemos, são confusos. Inclusive no mundo das comidas e bebidas.

 

Durante muitos anos, minha bebida foi o vinho, quase exclusivamente. Depois, vieram umas decepções com gentes que o rodeiam e bateu a curiosidade de testar outras bebidas.

 

Cerveja, gim, whisky. E drinques, que vez ou outra ensaio fazer. É lúdico e é bom.

 

Mas o post não trata de nenhuma dessas; ele fala de sake.

 

Não entendo nada de sake. Bulhufas.

 

Para saber um pouco mais, duas ou três vezes visitei a Adega de Sake, na Liberdade, olhei, ouvi explicações do Alexandre Tatsuya Iida —vulgo Adegão—, comprei uma coisa ou outra.

 

Quando a Adega se transferiu para Moema, fui conhecer a nova loja. Alexandre, então, depois de explanações que foram uma verdadeira aula, apontou uma garrafa e me disse: “Este é o seu sake. Ele se parece com você.”

 

Em seguida, falou da origem da marca e explicou a bebida do seu jeito: com metáforas e analogias, com pequenas parábolas. Constrói uma situação imaginária, insere personagens nela. Em vez de se limitar a esquecíveis descrições organolépticas, ele narra; narrando, interpreta.

 

É assim que orienta os clientes; creio que é assim que  enxerga o mundo. Gosto de pensar —talvez seja clichê de quem não entende nada, mas, ainda assim, gosto de pensar— que é um modo muito oriental de olhar a vida: revestido de simplicidade, de afabilidade, só que denso de profundidade; intenso e melancólico, preciso e indireto.

 

Se não me engano, naquele dia, comprei uma garrafa de shochu e três de sake. Bebi um dos sakes, gostei muito. Bebi o shochu, também gostei.

 

Só ontem, porém, meses depois, abri a garrafa do “meu sake”. E um carrossel de aromas e sabores me entorpeceu. Foi uma das bebidas de que mais gostei na vida. Mas foi mais que isso: houve uma satisfação, um reconhecimento tão prazeroso e surpreendente quanto estranho e tocante.

 

Me dei conta de que o sujeito que me associou àquela bebida mal me conhece: sabe de mim por meia dúzia de visitas às suas lojas, pelo que lê no blog ou no twitter.

 

Foi aí que entendi: o jeito de olhar a vida, independentemente de ser ou não oriental, é em primeiro lugar um jeito de olhar, é a disposição de olhar o outro e de fato enxergá-lo.

 

Que coisa! Que diferença de quase tudo que nos cerca! Quão extraordinário é esse aprendizado do olhar —e ainda mais porque talvez inconsciente, intuitivo—, sobretudo num mundo tão autocentrado, de enjoativos egocentrismos à flor da pele, como é o das comidas e das bebidas.

 

Por isso, este post é uma homenagem e um agradecimento.

 

Por ensinar —junto com incontáveis coisas sobre shochus, whiskies japoneses e sakes— que ainda há quem se importe com o outro e seja capaz de enxergá-lo.

 

Obrigado, Adegão.

 

 

 

ps. o sake em questão é o Nakadori — Zaku Miyabino Tomo.

Adega de Sake

Alameda dos Nhambiquaras, 1089, Moema, São Paulo

tel. 11 4304 0025