Tem restaurante que vale por um prato. Pode até ter mais, mas aquele já justifica a visita e a conta. É o caso do quarteto de arenques do Aquavit.
O Aquavit serve comida escandinava preparada sob o comando de um chef etíope, Marcus Samuelsson.
O restaurante já ganhou três estrelas do New York Times duas vezes. Samuelsson – filho adotivo de um casal sueco – foi eleito o melhor chef da cidade em 2003.
A julgar pelo almoço que fizemos lá, é pouco.
O lugar é bonito, elegante e discreto. O serviço, simpático e atencioso – um pouco cool demais.
A comida? Leia e salive.
Bem, aproveitamos a New York Restaurante Week e o menu de US$ 24,07.
Dentre as entradas, minha mulher preferiu a velutata de cenoura com uma massinha adocicada e um pouquinho de… aquavit, o destilado escandinavo.
Minha filha e eu pedimos o Herring Sampler. Tudo que comi daí para frente foi ótimo, mas nada chegou aos pés desses quatro tipos de arenques crus ou defumados, servidos sem nada que desviasse a atenção da incrível variação de sabores.
Uns eram macios, quase derretiam na boca; outros eram fibrosos e resistiam deliciosamente às dentadas. Uns tinham sabor delicado, ligeiramente adocicado; outros eram amargos ou fortemente salgados. Uns pareciam ter acabado de sair da água; outros davam a impressão de que a fumaça os alterara drasticamente. Uns passavam rapidamente pela boca; outros persistiam. Tudo isso reunido, combinado. Separados no prato, reunidos no paladar. Ai.
Provei um pedacinho de cada e, voltando à infância, tentei deixar o melhor para o final. Não consegui. Todos tinham que ficar para o final. A mistura de todos tinha que ficar para o final.
É, ingrediente é tudo. Quando fabulosamente combinado, é mais ainda. E se for simples, nem se fala.
Mas tive que acabar de comer porque o prato principal nos esperava.
De novo, minha filha e eu coincidimos: salmão defumado com legumes, beterraba e cebolinha. Dois tipos de beterraba: a clássica vermelha e a branca (que os americanos chamam de amarela). Molho de mostarda e laranja. Não surpreendeu como a entrada, mas era um salmão e tanto.
Minha mulher preferiu as almôndegas suecas, acompanhadas de lingonberries (berry vermelhinha, que está em quase todo molho escandinavo e normalmente acompanha carne de caça), purê de batata e pepino em conserva. Mais escandinavo do que isso, só smorgasbord (que o casal da mesa do lado comeu; nós apenas salivamos). E bom para burro – digo, para alce.
Acabou? Não! Faltava a sobremesa.
E nós três mandamos brasa num Arctic Circle. O nome, meio óbvio, encobre algo absolutamente fabuloso: um gelado de queijo de cabra acompanhado de sorvete de blueberry e calda de maracujá. Não vou nem descrever para não atiçar ainda mais a sua inveja, leitor. Saiba apenas que quase desmaiamos.
Para acompanhar tudo isso, minha filha tomou (adivinhe!) um suco de cranberry. Minha mulher e eu aproveitamos uma promoção extra do restaurante: um espumante da Borgonha pelos mesmos 24,07 do menu.
Conta total, incluindo os expressos: 150 dólares. Isso se chama seriedade.
Agora, me diga: você conhece algum lugar em São Paulo onde três pessoas comam tanto e tão bem, com ingredientes dessa ordem e espumante francês de boa qualidade por esse preço? Eu não.
E olhe, se tivessem me servido o quarteto de arenques e apresentado em seguida a conta, sem mais delongas, eu já teria ido embora satisfeito…
Aquavit
http://www.aquavit.org/flash.html