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Meus vinte, hoje

30/08/2011

 

Começou como um desabafo, ao sair de um jantar inexpressivo: ‘Não há, em São Paulo, mais de vinte restaurantes que de fato valham a pena’ — escrevi no twitter.

A cifra é arbitrária. O comentário, idiossincrático. Mesmo assim o repeti mais de uma vez.

Então passaram a me cobrar que fizesse a lista.

Não foi fácil, claro. E ela não representa necessariamente os melhores restaurantes de São Paulo. Três das principais casas da cidade estão ausentes — D.O.M., Maní e La Brasserie de Erick Jacquin — e gosto das três. Apenas não acho que tenham a necessária regularidade, o que muitas vezes torna ruim a relação custo-benefício.

Claro que posso ter esquecido de algum lugar. Assim que lembrar, acrescento. Obviamente, ela está em ordem alfabética. E tem 21 nomes, não vinte.

Finalmente: não custa lembrar que a lista se refere a… hoje. Amanhã pode ser outra.

 

AK Vila

Amadeus

Brasil a Gosto

Chef Rouge

Così

Dalva & Dito

210 Diner

Emiliano

Epice

Fasano

Gero

Ici

Jun Sakamoto

Marcel

Mocotó

Parigi

Picchi

Sal Gastronomia

Tappo

Tordesilhas

Zena Caffè

 

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Passado & presente

14/02/2010

 

Certos restaurantes trazem o ar rarefeito, mas decisivo, da memória.

Foi lá que jantei com meus padrinhos antes do casamento. Foi lá que tantas vezes comi patos e cordeiros memoráveis. Foi lá que minha filha provou escargot pela primeira vez. Foi lá que comemorei uma meia dúzia de aniversários, meus e alheios.

Foi no Chef Rouge.

Por isso já falei a tanta gente que é dos meus preferidos em São Paulo.

E foi no Chef Rouge que jantei na sexta-feira passada.

A decoração continua a mesma — e gosto dela, embora normalmente prefira ambientes visualmente mais limpos (em bom português, clean).

O serviço segue cortês, sem ser contaminado pela praga da falsa intimidade e da bajulação que tomou de assalto alguns de nossos bons restaurantes.

O couvert ainda é agradável. A carta de vinhos continua reduzida, mas suficiente. E o menu traz uma interessante sugestão de pratos do Mediterrâneo; não chega a compensar a retirada da coxa de pato no molho de cassis — um dos patos top-five da cidade —, mas atrai.

Minha filha escolheu a tagliarini Le Procope, uma das homenagens do Chef Rouge a outros restaurantes. Molho de limão, azeitonas pretas e presunto cru. Massa no ponto exato, saborosa, sem excesso no limão.

A escolha de minha mulher foi a melhor da noite: cavaquinha rapidamente chapeada com salada verde, batata e creme fraîche. A crème vinha carregada demais na acidez e carecia do sabor prometido de queijo caprino, mas o crustáceo estava delicioso.

Meu cassoulet infelizmente derrapou. O pato, minúsculo e meio insosso, me fez lembrar, nostálgico, de bons e fartos cassoulets au confit de canard dentro e fora da cidade. O feijão estava bem equilibrado e consistente, mas os demais embutidos chegaram inexpressivos. O garçom esqueceu-se de deixar o arroz acessível ou voltar a servi-lo. Portanto, só na primeira rodada pude combiná-lo com o restante.

A sobremesa é obrigatória no Chef Rouge. Minha filha quis a boa e bonita torta mousse de chocolate. Eu escolhi a normalmente incomparável tarte tatin. Mas dessa vez ela não empolgou: faltava-lhe a crocância característica, o que denunciava que o frescor já se fora. Além disso, a fatia, muito pequena, veio toda desmantelada, feia.

O último dissabor veio na conta, bem acima do que devia: quase 500 reais, resultado de pratos que giram em torno de 60, 70, alguns a 80 reais.

O que são 500 reais? Depende, claro, do que se come. Mas uma refeição como a que fizemos (sem entrada, 3 pratos, duas sobremesas, águas e vinho — Borgonha básico a 130, com sobrepreço excessivo) sairia por 40% a menos em vários bons, talvez melhores, restaurantes de São Paulo. Portanto, foi caro demais.

Balanço geral: saímos de lá chateados. Foi um mau jantar? Não. Mas não foi o Chef Rouge de nossa memória, da correção em todos os pratos, do preço que sempre achamos justo.

Tudo o que vivemos lá continuará conosco. Só não queríamos que o teatro das boas lembranças vivesse esse quase entreato.


Chef Rouge

Rua Bela Cintra, 2238, Jardim Paulista, SP

Tel.  11  3081 7539

Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Chef Rouge