É fácil chegar ao ponto mais micado de Higienópolis.
Passe ao lado da Barcelona e não entre na Vilaboim. Desça mais trinta metros e vire à direita. Evite entrar sem querer no posto de gasolina. E, sobretudo, não atropele os alunos da Faap que ficam aos quilos por ali.
Pronto: você chegou à rua Tinhorão. Siga um pouquinho mais, até o número 122.
Lá havia uma tratoria honesta. Fechou. Depois veio a cozinha judaica da Cecilia, uma das melhores relações custo-benefício que São Paulo já teve. Fechou.
Agora se instalou na mesma casa um novo restaurante: Gastrô – Espaço Gourmet. Será que vai?
Sob o nome pomposo, algo diferente. Uma escola de culinária, que serve menus fechados no almoço.
A idéia é bacana e o espaço foi bem reorganizado. Poucas mesas no andar de baixo; algumas mesas e um grande balcão em volta da cozinha, no andar de cima.
No dia da visita, a proposta era árabe. No som, música árabe. No cardápio, a seqüência do dia da visita começava com fatouche, seguia com quibe assado e arroz marroquino e fechava com malabie.
A salada estava ácida demais. Demais. O excesso de limão encobria o sabor da verdura, da hortelã, do pepino, do tomate e da romã – toque de estilo que se perdeu.
O quibe de coxão-mole, correto, ganhava a companhia de pistache, saboroso, no seu interior. Um outro corte, misturado ao coxão-mole, poderia aumentar o sabor da carne. Mas ok.
Ótimo o arroz marroquino. Sem ressalvas. Bastava comê-lo.
Já o bolo de maracujá com calda de morango estava agradavelmente úmido. Epa! Onde está o malabie? Não veio. No seu lugar um bolinho com cobertura de maracujá. Gostoso. A calda de morango não parecia de morango natural e isso é um erro. Mas o bolinho estava bom.
E o malabie? Fiquei em dúvida enquanto comia o bolo. Principalmente porque vi a chef (olha aí a vantagem de ficar no balcão!) preparar três deles para outra mesa.
Na saída, até perguntei a razão da troca e ouvi que o malabie havia acabado antes de me servirem. Falei que tinha visto outra mesa receber malabie depois de me servirem o bolo. Me pediram desculpas. Desculpado.
Nem vou achar que podem ter reservado os três últimos para uma mesa com pessoas aparentemente mais respeitáveis, que talvez se tornassem clientes fiéis.
Nem vou supor que acharam que não valia a pena desperdiçar dois dos derradeiros malabies com um sujeito de camiseta e barba por fazer, acompanhado de uma menina de nove anos. Imagine se vou pensar isso! De jeito nenhum.
Também não vou achar que houve diferença no tratamento só porque as receitas do dia (entregues ao final da refeição: outra boa idéia) me foram dadas apressadamente e, para outros clientes (os que ganharam malabie), foram colocadas numa pasta bonitinha, com direito à explicação da chef na mesa.
E, claro, não vou reclamar que só me ofereceram café quando eu já estava de pé no piso de baixo, esperando para pagar a conta, enquanto outras pessoas ganharam café na mesa.
Se eu reclamasse, pareceria inveja, e isso eu não quero.
Mas confesso que fiquei incomodado com o serviço atrapalhado.
Torço, porém, para que o Gastrô persista. Contra a terra e contra os céus que derrubaram a tratoria e a Cecilia. Porque a idéia é boa, ainda que o placar tenha ficado negativo na primeira visita.
Quero voltar. Nem que seja de pirraça, só para provar o malabie, ora.
Rua Tinhorão, 122, Higienópolis, SP
tel. (11)3666 7111
Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Gastrô