Archive for the 'kinoshita' Category

2011 à mesa

15/12/2011

Fim de ano, hora de balanço.

Cogitei soltar uma nova fornada do Alho de Ouro, idiossincrático e bissexto prêmio, mas desisti.

Preferi falar dos lugares que valeram a pena, para mim, em 2011.

Duas estreias que, além de serem as mais interessantes do ano, ainda por cima rimam: Julice e Epice.

Julice, a padaria que me deu alegria atrás de alegria —e a melhor das alegrias, a de ter um delicioso pão, alimento essencial, sempre por perto.

Epice, o restaurante que criou um almoço executivo sensacional e que, se conseguir à noite a excelência que demonstra de dia, pode se tornar um dos melhores de São Paulo.

Os quatro melhores jantares do ano aconteceram em restaurantes de estilos muito diferentes: uma inacreditável degustação na Brasserie de Erick Jacquin —um dos grandes jantares da vida, não só do ano—, outra degustação maravilhosa com Roberta Sudbrack, a revelação da absoluta delícia do Clandestino e um jantar decisivo num de meus refúgios favoritos, a Tappo.

Fora isso, a conclusão de que Marcel, Ici e 210 Diner continuam deliciosos. Que o Tordesilhas prossegue na lista dos restaurantes essenciais da cidade. Que o Emiliano corrigiu a afetação de seu serviço e sua comida está melhor do que nunca. Que a Casa da Li, a princípio uma rotisserie, virou também um excelente restaurante.

Mas se eu tivesse que escolher meu restaurante do ano, escolheria o AK, agora AK Vila, uma reestreia. Perdi a conta de quantas vezes comi lá, do quanto minha geografia da cidade foi alterada para que eu frequentasse mais a Vila Madalena. No AK Vila, além da comida sempre boa, descobri o acolhimento e o prazer que sentia no AK da Mato Grosso e que eu supunha ter perdido na mudança. Não perdi.

E, como tudo tem seu lado ruim, o ano também trouxe grandes decepções. Um jantar caríssimo, cheio de afetação e sem brilho no Arola 23. Uma refeição igualmente cara e desleixada no Kinoshita. E o desconfortável desaparecimento do Jun Sakamoto, em meio a um jantar em seu balcão, sem que qualquer satisfação fosse dada aos clientes —que haviam cumprido todas as recomendações dadas por telefone, quando da reserva.

Mas faço as contas e vejo que o balanço foi positivo. As coisas boas ultrapassaram em muito as ruins e esse 2011 à mesa valeu a pena.

Agora, descansar e descansar, porque nos outros setores foi um ano pesado demais. E esperar que, com ou sem o fim do mundo, 2012 seja um ano muito bacana para todo mundo.

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O que é um bom serviço?

07/06/2011

 

O que é um bom serviço?

Para pensar sobre o tema, faço um breve relato.

Minha mulher, minha filha e eu no Kinoshita, servidos com cortesia limítrofe, atenção burocrática.

Nas duas mesas que nos cercavam — onde foram pedidos champagnes caros — o cuidado do serviço era notável. Bastava um leve gesto e nossos vizinhos tinham dois ou três garçons à volta. Sem contar a ininterrupta disposição do maître em comentar as qualidades da comida e da bebida que eles consumiam.

Não fiquei com inveja, não.

Ao contrário. Poucas coisas me desagradam mais do que serviço insistente, excessivo, rente demais.

Confesso, porém, que continuo a me surpreender com a facilidade com que algumas equipes de salão diferenciam quem supõem merecer dedicação daqueles a quem o básico, oferecido de cima para baixo, já basta.

Ambas atitudes, na prática, são erradas: são formas espelhadas do mesmo despreparo.

Já escrevi antes e repito: quando o conceito de república chegará a 90% dos restaurantes de São Paulo?

O assunto é o serviço, mas, para não deixar no ar, duas palavras sobre a comida, que teve poucos destaques: o sushi de carapau, o ótimo uni e as ostras suculentas.

Fora isso, estavam corretos o atum laminado com pepino e nabo e os sushis de buri, ovas de salmão, cavalinha e atum.

Dois erros básicos da cozinha: lâminas de salmão em caldo fortemente avinagrado e sashimi de vieiras em que o excesso de flor de sal na finalização encobria totalmente o gosto do fruto do mar.

Custo: quase 500 reais (bebida: água).

Talvez o pessoal das mesas vizinhas discordasse — afinal, cada qual é cada qual e recebe a atenção que aparentemente merece —, mas continuo a achar que a relação custo/benefício do Kinoshita é ruim.

E o serviço, no excesso e no descaso, é pior.

 

Kinoshita
Rua Jacques Félix, 405, Vila Nova Conceição, São Paulo
tel. 11 3849 6940

 

 

Relatos edificantes

03/11/2009

 

Quando se vai muito a restaurante, coleciona-se um bom número de histórias sobre pequenos deslizes, médias grosserias e grandes equívocos.

São de diferentes espécies.

Há os casos risíveis: por exemplo, o do garçom que instruiu minha mulher sobre como pedir água ou do que quis se certificar se o café estava mesmo gelado.

Há os que nos deixam profundamente irritados, como ser ultrapassados numa fila de espera por alguém com evidentes laços de amizade com a casa.

E há os que mostram negligência pura e simples com clientes que não chamam atenção e que, aos olhos da equipe de garçons, parecem não interessar à casa.

Abaixo, alguns desses casos.

Todos ocorreram nas duas últimas semanas e são histórias, digamos, edificantes.

Todos ajudam a lembrar que o bom restaurante não se resume à comida: ele começa no telefonema da reserva e termina na hora em que o cliente recebe o carro de volta (isso, claro, quando não há rescaldo posterior da comida).

Todos também dão conta de como muitas casas aprenderam a cobrar caro, mas não a tratar bem os comensais. Em bom português: a respeitá-los.

A eterna espera

Chegamos ao Garcia & Rodrigues ao meio-dia e meia de um domingo. Queríamos comer algo rápido, até porque nosso avião nos esperava. Todas as mesas ocupadas. O rapaz da porta nos avisa: “só um minuto, a próxima é de vocês e já há uma mesa liberando.” Ótimo.

Atrás de nós, começa a crescer a fila de espera. Dez minutos depois, o rapaz chama um grupo de quatro pessoas e as encaminha para uma mesa no piso superior.

Um pouco espantados, nos dirigimos a ele e perguntamos: por que não nós? A resposta é cândida: “vocês são três e a mesa é de quatro”.

Insistimos um pouco sobre a sutil diferença espacial entre três e quatro, aparentemente ignorantes de que há quatro consumidores numa mesa de quatro e apenas três, na de três.

Mais cinco minutos se passam. Uma mesa de dois lugares é liberada. Aguardamos ansiosos a limpeza e a chamada de nosso nome.

Nesse momento duas moças entram no restaurante, atravessam toda a fila, cumprimentam o rapaz da porta pelo nome e ele, que também sabe o nome delas, as leva à nova mesa vaga.

Já irritados, voltamos a perguntar sobre nossa suposta precedência e ouvimos explicação categórica: “elas já tinham vindo antes e não encontraram mesa. Saíram e agora voltaram.”

Nos olhamos perplexos e cogitamos ir embora. Mas isso implicaria iniciar nova espera, etc. E tínhamos o avião…

Mais cinco minutos (vinte no total), vaga uma mesa de quatro pessoas. O rapaz da lista percorre a fila com o olhar, hesitante.

À beira de um ataque de nervos, olhamos duro para ele e — vejam só que sujeito gentil — ganhamos a mesa.

Mesa para três

Às vezes tenho a impressão que alguns restaurantes simplesmente gostariam de proibir a ocupação de mesas em número ímpar. No nosso caso, o incômodo que provocamos é ainda maior, uma vez que o “terceiro elemento” é uma criança, que, aos olhos de muitos garçons, cria sempre a expectativa de problemas.

Havíamos feito reserva para o Due Cuochi Cucina há dez dias, com a paciência de Jó de ouvir a voz sempre áspera da atendente, que parece fazer um favor ao cliente por reservar mesa.

Fomos os primeiros a entrar no restaurante, no horário da abertura noturna, e nos encaminharam para uma mesa de dois, espremida entre a parede e outras duas mesas.

Até tentamos nos acomodar, mas era complicado. Uns vinte minutos depois, e logo que conseguimos chamar a atenção de algum garçom, minha mulher, moça de funda esperança, perguntou a ele se não poderíamos passar para mesa maior, em que… coubéssemos (a ocupação da casa, nesse momento, era de cerca de 40%).

Ouvimos um rotundo não, seguido de explicação: “Aquelas mesas são para quatro e agora estão vazias, mas daqui a pouco, a senhora vai ver, fica tudo lotado.”

Fazer o quê? Comemos lá, tentando enxergar em meio à obscuridade, com o caminhão de lixo fazendo barulho ao lado e dando cotoveladas uns nos outros. Sem contar o imenso prazer de ouvir as conversas das mesas vizinhas (relatos de viagens, vejam que interessante!).

Desconfortáveis, apressamos nossa refeição e saímos de lá assim que deu, uma hora depois.

A casa tinha, nessa altura, ocupação de 70% e as mesas “para quatro pessoas” (e não três) continuavam vazias.

Um educador

Num país em que a educação anda tão em baixa, é bom encontrar pessoas dispostas a ensinar aos ignorantes.

Num almoço no Dalva & Dito, minha mulher e eu pedimos “uma água sem gelo e sem gás e uma com gelo e com gás”.

Minutos depois, chegam as águas. Uma sem gelo e sem gás. A metade da outra (com gelo e com gás) é despejada num copo cheio de pedras de gelo.

Minha mulher percebe e fala ao garçom: por favor, eu não quero gelo no copo.

E ouve a importante instrução, dita em tom duro, de evidente autoridade: “Então, a senhora tinha que ter pedido ‘água gelada’, e não ‘com gelo’. ‘Com gelo’ é assim.”

Evidentemente contrafeito, afasta o copo e pega outro, onde derrama o resto da garrafa.

A primeira metade da garrafa não foi reposta e dali a pouco tivemos que pedir outra. Mas desta vez acertamos no pedido.

Professor rigoroso e de uma tradição mais antiga e ríspida de docência, o garçom conseguiu nos ensinar a pedir água. Tanto que, daí para frente, sempre pedimos “água gelada” quando queremos apenas água com gelo.

Confirmação

Fim de uma boa refeição no Kinoshita, nosso café demora e chega gelado à mesa. Engolimos.

Na hora de pagar a conta, comentamos o fato com o garçom. Ele lamenta e, em seguida, pergunta: “Mas vocês têm certeza de que estava mesmo frio?”

Refletimos com calma, analisamos, abalizamos, pesamos, sopesamos e concluímos: sim, estava.

Gentilmente, ele nos trouxe outros.

Pólo norte ruidoso

Deve ser carma. Não pode ser outra coisa. Há casas que só colhem elogios e onde nunca conseguimos fazer uma refeição sem enfrentar problemas sérios.

Fomos conhecer o Le Marais, irmão francês e quase vizinho do Due Cuochi. O sistema de reserva dos dois é semelhante: você espera na linha por cinco minutos, escutando musiquinha chata, explica a três pessoas o que quer e, finalmente, ouve a voz tolerante de quem vai, vá lá!, aceitar sua reserva para dali a duas semanas.

Chegamos e a casa estava vazia. Minutos depois, outro casal. Ar geladíssimo e música altíssima.

Escolhemos os pratos e pedimos ao maître, com gentileza, se seria possível abaixar um pouco o som e descongelar um pouco o salão. A resposta é gentil: “Claro, claro.”

Em seguida, ele vira as costas, dá dois passos e, sem ter feito qualquer das duas coisas, se planta ao lado da porta de entrada e não olha mais para nossa mesa.

Punidos pela audácia de semelhante pedido, nos conformamos. Minha mulher enrola uma malha no pescoço. Uma pena que o prato não tivesse salsinha para colocar no ouvido, no estilo Asterix.

Ao sairmos de lá, o mais rápido possível, celebramos deixar o continente ártico e poder ouvir o silêncio das ruas de São Paulo. Sim, elas nos pareceram incrivelmente silenciosas.


Sushi

09/04/2009

Qual é seu sushi favorito?

O Prêmio Paladar deu a vitória ao Shin-Zushi.

A Veja SP Comer & Beber indicou o Aizomê e o Kinoshita – embora não fosse só o sushi que estava em jogo.

Pessoalmente, nunca comi um sushi em São Paulo superior aos do Jun.

Mas o que está na minha memória agora é o de uni que comi ontem à noite no Shin-Zushi. Ai, ai.