Alguém aqui não está entendendo direito o espírito da RW, e acho que sou eu.
Basta ver que me empolguei quando li a presença do Porto Rubaiyat na lista de restaurantes que participariam do evento, e com a proposta de oferecer seu bufê.
Liguei correndo e reservei: para as 19 de ontem.
No decorrer da semana, conversei com algumas pessoas e elogiei a idéia: me parecia uma valorização da semana e uma tremenda jogada de marketing. Diminuir a margem de lucro para conquistar maior público para seus pescados de primeira. Mostrar que a menor das casas Rubaiyat é um lugar agradável e que pode ser acessível.
A coisa começou a azedar quando estacionei o carro na porta, às 18h53, sete minutos antes do horário da reserva, debaixo de chuva e com a calçada parcialmente alagada. A casa já estava aberta, o porteiro confirmou. Mas não havia manobrista. Nem guarda-chuva. Nem boa vontade do porteiro de abrir a porta para minha mulher e minha filha descerem.
Esperamos cinco minutos no carro e ninguém apareceu. Manobrei, subi parcialmente na calçada para que elas descessem sem ter que pisar no aguaceiro (o porteiro prosseguia imóvel).
Minha mulher desceu, abriu a porta para minha filha (o porteiro, homem prudente, evidentemente não podia se molhar) e as duas entraram na casa.
Dei ré, engatei a primeira e segui em frente, em busca de lugar para estacionar. Vi um estacionamento e entrei. O rapaz me disse que não aceitava carros do restaurante e me orientou a deixar com o manobrista. Expliquei que não havia manobrista na porta. Ele então recomendou que eu fosse até o estacionamento do restaurante e deixasse o carro lá. Fui e estacionei no terreno amplo, onde não havia viv’alma. Junto com mais dois casais, contornei a rua, na chuva, até a porta da casa.
Quando cheguei, tentei explicar ao porteiro que havia deixado o carro no estacionamento. Ele se dirigiu ao manobrista, que chegava calmamente, e contou.
Então, meus caros, vi uma cena que nunca supus que veria nas casas de Don Belarmino. O manobrista abriu os braços e retrucou, irritado: “mas faltavam três para as 7, eu só começo a trabalhar às 7.”
O que você faria?
Na dúvida entre chorar ou brigar, preferi entrar no restaurante, relatar o ocorrido à recepcionista e reencontrar minha mulher e minha filha. Pedimos um Riesling e olhamos os peixes, bonitos, do aquário. Foi minha filha que me fez voltar a rir – como sempre faz.
Minutos depois, na mesa, e mais relaxado (após várias promessas e auto-promessas de que não estragaria mais uma refeição no dia), começamos a jantar.
A decepção, daí, foi ver que o bufê não era o que esperávamos, não era o que o Porto serve para seus clientes habituais (um deles, eu).
A mesa de frios era reduzida, mas oferecia alternativas. Não havia grelhados e a seção de pratos quentes era de chorar. Obviamente, nada de camarão ou similares. Uma paella (que já não é o forte da casa) claramente desfalcada de bichos. Um peixe (pescada?) num molho incerto (não arrisquei), umas lulinhas desamparadas (macias e insossas).
E não adiantava se guardar para a mesa de sobremesas porque esta também havia sido reduzida drasticamente. Algumas frutas, quindins (muito doces), brownie (ressecadas) e um crocante mil-folhas de doce de leite que foi a salvação da lavoura.
Saímos de lá levando, de lembrança, o sabor do vinho e a gentileza da recepcionista – que voltou a nos procurar durante a refeição e, ao final, insistiu que formalizássemos a reclamação.
Foi nossa terceira visita nesta RW.
Jacquin não foi Jacquin, mas serviu um peixe correto a preço correto. Antiquarius valeu pelo público e para nos lembrar que a casa gosta mesmo, e tão somente, de seus clientes cotidianos (a ex-prefeita, a apresentadora de TV & cia.).
O Porto Rubaiyat nos mostrou que estávamos entendendo erradamente o espírito da semana. O objetivo, ao que tudo indica, é aumentar o público, ampliar os lucros, mandar o padrão às favas (quem dera tivesse favas!) e corroer a própria imagem.
Acontece que sou um sujeito teimoso e irreversivelmente otimista. Irei a mais três restaurantes, antes do encerramento do evento. Ainda aposto na idéia. Apenas acho que escolhi errado. E o consolo é que os três que faltam são casas que estão na listinha dos meus dez restaurantes favoritos.
Como dizia uma antiga (e ufanista) campanha publicitária: tem que dar certo!
Rua Leopoldo Couto Magalhães, 18, Itaim, SP
Tel. 11 3077 1111
Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Porto Rubaiyat