Escrever um blog é bom, escrever um blog é ruim.
Para mim, há algum tempo, o desconforto aparece sobretudo quando tenho que reclamar. Nada agradável, embora às vezes inevitável. Há quem diga que a função dos blogs é alertar; não creio: prefiro conversar.
Ontem à noite, minha mulher e eu fomos jantar. Hesitamos um pouco antes de escolher o Roux, perto de casa e agora ‘bistrô’, como o Luiz Américo destacara no Guia do Estado.
Foi a quinta vez que comi lá. A primeira, boa, virou post aqui no blog. Daí para frente, oscilações excessivas: poucos pratos bons, vários razoáveis, outro tanto ruim.
Serviço gentil, embora normalmente confuso: pratos trocados, alguma insistência — ontem, por exemplo, três pessoas vieram à mesa para repetir que um determinado vinho estava em promoção. Cansa, mas dá para deixar passar.
Dispensamos o couvert e dividimos, de entrada, dois corações de alcachofra com gruyère. Boa alcachofra, molho branco correto, mas rápida lembrança do queijo.
O polvo pedido por minha mulher — sugestão do garçom, que disse ser um ‘carro-chefe do cardápio’ — veio muito (muito!) além do ponto. Rijo, escuro, queimado, aparentemente ficara esquecido na frigideira.
Simpático, o garçom sugeriu e providenciou a troca. O segundo chegou em melhores condições, mas ainda assim além do ponto devido. Minha mulher premiou a boa vontade da casa e o comeu até o fim.
Meu cassoulet, prato do dia, esfriou enquanto aguardávamos a troca do polvo. Sim, sou moço estranho e acho indelicado comer enquanto minha acompanhante apenas assiste à cena. Não ocorreu a ninguém trocá-lo.
Não sei se adiantaria. Foi, de longe, o mais peculiar cassoulet que já vi. O potinho chegou à mesa com o feijão bem ressecado e coberto de farinha de mandioca. Nenhum acompanhamento. As carnes: um cubinho de frango, dois de carne seca igualmente ressecada, uma rodela de linguiça. Nenhum gosto, provável resultado da ausência de qualquer gordura mais saborosa e forte no preparo.
Não tive a boa vontade de minha mulher e abandonei na metade. Ninguém me perguntou por quê.
Resolvemos salvar a noite com os sorvetes, preparados na própria casa. Escolhemos, então, a degustação de cinco sabores: cardamomo, gengibre, coco queimado, Bayleys, frutas vermelhas. Todos estavam gelificados.
Os caramelos do de coco queimado, duríssimos, encobriam a fruta. O de morango, única fruta vermelha em questão, carecia de frescor. O de gengibre e o de Bayleys, de gosto. Salvou-se o de cardamomo.
Quinta visita. Por enquanto, a última.
Escrevo com lamento porque sempre me pareceu que a casa tinha potencial: ótima localização, ambiente agradável, esforço e investimento dos responsáveis. Meu limite, porém, foi o cassoulet — prato que me é tão caro — que me serviram.
Escrevo com lamento porque o ideal do blog é afirmar, não negar.
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Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Roux Bistrô