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O lado ruim

12/09/2010

 

Escrever um blog é bom, escrever um blog é ruim.

Para mim, há algum tempo, o desconforto aparece sobretudo quando tenho que reclamar. Nada agradável, embora às vezes inevitável. Há quem diga que a função dos blogs é alertar; não creio: prefiro conversar.

Ontem à noite, minha mulher e eu fomos jantar. Hesitamos um pouco antes de escolher o Roux, perto de casa e agora ‘bistrô’, como o Luiz Américo destacara no Guia do Estado.

Foi a quinta vez que comi lá. A primeira, boa, virou post aqui no blog. Daí para frente, oscilações excessivas: poucos pratos bons, vários razoáveis, outro tanto ruim.

Serviço gentil, embora normalmente confuso: pratos trocados, alguma insistência — ontem, por exemplo, três pessoas vieram à mesa para repetir que um determinado vinho estava em promoção. Cansa, mas dá para deixar passar.

Dispensamos o couvert e dividimos, de entrada, dois corações de alcachofra com gruyère. Boa alcachofra, molho branco correto, mas rápida lembrança do queijo.

O polvo pedido por minha mulher — sugestão do garçom, que disse ser um ‘carro-chefe do cardápio’ — veio muito (muito!) além do ponto. Rijo, escuro, queimado, aparentemente ficara esquecido na frigideira.

Simpático, o garçom sugeriu e providenciou a troca. O segundo chegou em melhores condições, mas ainda assim além do ponto devido. Minha mulher premiou a boa vontade da casa e o comeu até o fim.

Meu cassoulet, prato do dia, esfriou enquanto aguardávamos a troca do polvo. Sim, sou moço estranho e acho indelicado comer enquanto minha acompanhante apenas assiste à cena. Não ocorreu a ninguém trocá-lo.

Não sei se adiantaria. Foi, de longe, o mais peculiar cassoulet que já vi. O potinho chegou à mesa com o feijão bem ressecado e coberto de farinha de mandioca. Nenhum acompanhamento. As carnes: um cubinho de frango, dois de carne seca igualmente ressecada, uma rodela de linguiça. Nenhum gosto, provável resultado da ausência de qualquer gordura mais saborosa e forte no preparo.

Não tive a boa vontade de minha mulher e abandonei na metade. Ninguém me perguntou por quê.

Resolvemos salvar a noite com os sorvetes, preparados na própria casa. Escolhemos, então, a degustação de cinco sabores: cardamomo, gengibre, coco queimado, Bayleys, frutas vermelhas. Todos estavam gelificados.

Os caramelos do de coco queimado, duríssimos, encobriam a fruta. O de morango, única fruta vermelha em questão, carecia de frescor. O de gengibre e o de Bayleys, de gosto. Salvou-se o de cardamomo.

Quinta visita. Por enquanto, a última.

Escrevo com lamento porque sempre me pareceu que a casa tinha potencial: ótima localização, ambiente agradável, esforço e investimento dos responsáveis. Meu limite, porém, foi o cassoulet — prato que me é tão caro — que me serviram.

Escrevo com lamento porque o ideal do blog é afirmar, não negar.


Roux Bistrô

Rua Ministro Rocha Azevedo, 1101, Jardim Paulista, SP

tel. 11 3062 3452

Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Roux Bistrô


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Roux

28/06/2009

 

Muitas vezes temos preguiça de provar lugares novos. E com razão. De cada oito – indica a AlhoData – apenas um paga a pena.

Por isso a desconfiança se misturava com a curiosidade com que chegamos ao Roux, pertinho de casa. Chegamos, inclusive, cedo demais, e tivemos de fazer hora até o restaurante abrir.

Sentamos e recebemos o couvert. Manteiga temperada, azeite e três tipos de pão: um bolinho e uma trança adocicados e pão salgado. Bons, mas melhor foi a observação do garçom: os pães, as massas e os sorvetes são da casa. Depois ainda saberíamos que o couvert não é cobrado.

Alívios numa cidade em que trattoria que só serve massa seca ganha prêmio e onde pãozinho murcho e gelado com manteiga industrializada supostamente valem 10 ou 15 reais.

Pedimos a polenta com lagostim (uma entrada) para minha filha. Minha mulher preferiu o medalhão com molho de mostarda, batata com queijo no forno e legumes. Eu queria o ossobuco. Mas não tinha; então, fiquei com o lombo de leitão, acompanhado de torta de batata com alecrim, maçã caramelada e pimenta.

Não provamos o picci, massa que está presente em muitos itens do cardápio e que terá de esperar a próxima visita.

Os pratos, bastante fartos, vieram bem preparados e correspondiam à descrição do cardápio. Saborosos, com ingredientes de boa procedência e execução correta. Meu lombo levou o troféu de melhor prato da noite, embora o medalhão estivesse quase à sua altura.

A carta de vinho, com sobrepreço de 100-110% nos rótulos mais baratos, ofereceu um agradável cabernet sauvignon uruguaio, Cepas Nobles (72 na carta; 33 na importadora), que acompanhou bem nossos pratos.

O serviço é um pouco atrapalhado, mas educado e atencioso. O único deslize ficou por conta de não terem avisado que o prato de minha filha era apimentado – o que a levou a abandoná-lo. Na verdade, era o resultado mais fraco dentre o que provamos. Bom o ragu de lagostim, mas com polenta flocuda e fraca.

As sobremesas pedidas também não ficaram à altura dos pratos quentes. Os sorvetes, em que pese o voto de louvor por serem caseiros, eram medianos. Fraco, o de baunilha, embora feito de fava. Apenas razoável, o de chocolate branco. Bom, bom mesmo, estava o de cardamomo, que acompanhava e fez valer a pena a dacquoise de café, cujo pão de ló carecia de maciez.

Para fechar bem, café Illy, meu favorito. A conta ficou em honestos 218.

No teto, lustres bonitos sugeriam um estilo clássico atualizado. No conjunto, a decoração da casa segue a mesma linha e simboliza a comida do chef Arthur Sauer. Sem recorrer (com a graça do Altíssimo) a emulsões, esferificações e componentes sintéticos em profusão, pratica uma culinária de risco menor (mas nem por isso fácil) e bastante correta. Sabe ler e adequar receitas tradicionais, dá toques pessoais e mostra consistência. Promissor.

Ou seja, se seguirmos fielmente a proporção indicada pelo AlhoData, os próximos sete serão ruins… Tomara não.

Roux

Rua Ministro Rocha Azevedo, 1101 , Jardim Paulista, SP

Tel. 11  3062 3452

Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Roux