Nunca tinha ouvido falar do Sea Grill. Nem do chef Jawn Chasteen ou do chef pâtissier Michael Gabriel.
Estava fazendo minhas reservas em restaurantes, por meio do OpenTable, e bati o olho na lista dos que participariam da New York Restaurant Week.
Acho que foi o nome que me atraiu – associado, provavelmente, ao fato de que minha filha é uma pequena orca no que se refere ao consumo de peixes.
Resolvi reservar. Minha mulher e eu ainda combinamos: vamos ver como é e, conforme for, desmarcamos. Ok.
Vimos o lugar e achamos bonito. Fica num piso inferior, no meio do Rockefeller Center. Você chega a ele por um elevador.
O salão, discreto, bonito e elegante, dá para a famosa pista de patinação do Rockefeller. Caso você vá lá, inclusive, previna-se: sua filha vai querer patinar depois do almoço e você, claro, vai deixar.
Lá dentro, executivos. Mais executivos. E, ainda, executivos. Nenhum casal. Nenhuma criança. Fora minha mulher e eu, fora minha filha. Era nosso primeiro restaurante decente em NY e não sabíamos ainda que as crianças novaiorquinas não freqüentam restaurantes.
Pedimos o menu da Restaurante Week: entrada, prato principal e sobremesa por US$ 24,07 – uma referência ao ritmo da cidade, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana.
O restaurante, no espírito da semana, oferecia 25% de desconto nas garrafas de vinho. Claro! Pedimos um pinot grigio básico, que não fez feio.
De entrada, minha mulher quis o cappuccino de cogumelos selvagens; minha filha e eu ficamos com o tartare de salmão curado com iogurte e pepinos.
O cappuccino era delicioso – mesmo para quem não é muito fã de sopas e cremes em geral (meu caso). Denso, forte, intenso.
E o tartare de salmão, coberto por wasabi fresco, foi a primeira grande surpresa que o Sea Grill ofereceu. Muito, muito saboroso. Muito. Muito mesmo. O iogurte e o pepino, suaves e frescos, o wasabi, picante na medida, dialogavam com o salmão e pareciam intensificar o sabor dele.
A coisa prometia.
Vieram os pratos principais.
Truta sobre cama de abobrinha crua ralada e couve-de-bruxelas para minha mulher. Grelhada (afinal, grill está no nome da casa), úmida, gosto de fogo – este estágio primal, a que tanto retornamos. Deliciosa, macia. No ponto preciso (ou seja, ela saiu da grelha vários minutos antes do ponto em que a maioria dos restaurantes brasileiros, pródigos em torrar peixes, costuma servi-los).
Um combinado de sushi e sashimi para minha filha. Nada demais, mas os peixes eram variados e saborosos.
Mas o meu (há, há!) era o melhor: hake na chapa com escarola e molho vermelho ligeiramente picante e fresco (red curry, segundo o menu; mas um amigo indiano já me ensinou que curry não existe).
Você sabe o que é hake? Pois é, eu também não sabia. O garçom me explicou que tinha sabor próximo do bacalhau (fresco, claro) e eu resolvi arriscar. Só depois descobri que hake é merluza. E que merluza! Digo, que hake! De novo, o wasabi fresco dava o tom no diálogo com a carne forte e delicada do peixe. Ai, ai. Queria trazer um estoque de hake para casa, mas acho que a alfândega não autorizaria.
Para sobremesa, uma boa torta de limão com sorvete de baunilha (da casa e de verdade: feito com a fava) e um ótimo, ótimo (ótimo!) ganache de chocolate amargo com sorvete de laranja assada, acompanhado de peras cozidas no mel.
Serviço corretíssimo e gentilíssimo e conta final de US$ 150 (com vinho, suco de cranberry para minha filha e a gorjeta de 20% – para não apanhar do garçom), o que é caro para os padrões paulistanos, mas bastante razoável em Nova York – você gasta isso em qualquer biboca.
Saímos do calor do salão e da comida para os cinco graus negativos da cidade e, enquanto minha filha patinava no gelo, eu ainda sentia o gosto de começar nossas peripécias gastronômicas com uma boa surpresa.
Dias depois chegaria à conclusão de que devia ter cancelado a reserva no db bistrot moderne, de Daniel Boulud, e voltado ao Sea Grill. Pena que não fiz isso. Mas essa é outra história.
Sea Grill
http://www.patinagroup.com/east/seaGrill/