Tomara que ninguém fique bravo comigo por causa do título-brincadeira. Sou escaldado: certa vez brinquei com bascos e levei pedrada de todo lado.
O fato é que de uma semana para cá cogitei seriamente me tornar Amish.
Claro que isso traria algumas dificuldades: manter o blog, por exemplo.
Mas a compensação seria fabulosa: comer funeral pie regularmente. Talvez me tornasse também um sujeito meio vil, mórbido, torcendo pela morte alheia e pela decorrente torta.
O que é funeral pie?
Torta de cidra, passas e especiarias. A tradição Amish indica, em caso de morte de conhecido, prepará-la e levá-la à casa enlutada.
De tempos para cá, passou também a ser associada ao Halloween e comida no final de outubro.
Quem me explicou, via twitter, foi Flavio Federico, chef pâtissier e dono da Sódoces.
Já faz algum tempo que considero a Sódoces a melhor doceria de São Paulo. Vou lá pelos belos doces e pelo sorvete — algo tão maltratado nesses ares tupiniquins. Cupuaçu, baunilha, chocolate, graviola são meus prediletos. Mais recentemente, o improvável sabor de cerveja preta engrossou a lista.
E, claro, os macarons sem equivalente, que eu conheça, ao sul do Equador. Cambuci, butiá e pistache. E portokali (laranja & chocolate), oiapoque (cupuaçu, chocolate branco e rapadura) e de caipirinha (pois é, não gosto de caipirinha, mas gosto de macaron de caipirinha). Ai.
Nesse final de semana, porém, fui lá com uma ideia fixa: experimentar a funeral pie. E lhes digo uma coisa: vale a pena converter-se. Se não ao anabatismo, pelo menos à gulodice funerária.
A massa preparada pela Sódoces é macia, delicada, crocante, açucarada sem exageros, saborosíssima. O recheio ácido, doce, forte, viciante.
Até que minha questão religiosa se resolva, resta comê-la uma vez por ano — e aproveitar que nessa semana ainda tem.
Mas fica o alerta: se o blog parar subitamente, quiserem falar comigo e não souberem onde me encontrar, mandem uma carta lá para a Pensilvânia, onde estarei todo de preto, perfidamente aguardando a morte de alguém.
Alameda dos Arapanés, 540, Moema, São Paulo
tel. 11 5051 5277