Não gosto muito de ser visto — resultado da tentativa de preservar meu relativo anonimato e, sobretudo, de minha timidez.
Também não enxergo lá muito bem e, ainda por cima, sou bastante distraído.
Ou seja, restaurantes que se destacam na categoria ‘para ver e ser visto’ me trazem, de saída, dois problemas sérios.
Eis, porém, que, dia desses, minha mulher e eu resolvemos ir a um bar, evento raro em nossas vidas. Fora o óbvio — Fasano, Emiliano, Astor —, desconhecemos quase tudo. Pedi sugestões pelo twitter e, como de hábito, recebi muitas e boas ideias.
Tentamos reservar mesa em dois deles, não conseguimos. Ficamos cá a matutar sobre nosso destino e, de repente, minha mulher sugeriu: ‘E se fôssemos ao Spot?’
Ok, não é bar, mas tem um ambiente que, na minha ignorância, aproxima-se do de um bar. E fazia tempo que não íamos lá. Fechado.
Chegamos lá alguns minutos antes de começar o agito. Tanto que sentamos imediatamente e pedimos um espumante. Aos poucos, começou a encher de gente. Gente, gente e mais gente. Gente com jeitão moderno, vozes altas e risos soltos.
A primeira entrada foi bazergan, trigo com coalhada seca, acompanhado de torradas de pão árabe. Fresco, gostoso. Depois, terrine de cabra com legumes: superior e mais barata do que uma recentemente comprada numa rôtisserie muito prestigiada.
E chegava mais gente, mais gente. A espera, ouvíamos dizer, ultapassava uma hora. Os clientes (taí coisa que não entendo) topavam esperar com tranqüilidade. O serviço — meninas e meninos, lindas e lindos, cheios de estilo —, normalmente um tantinho afetado, estava afinado, atento, simpático.
Dividimos, como prato principal, um steak ligeiramente além do ponto, com cevadinha e molho de raiz forte. Carne suculenta, molho incisivo, cevadinha deliciosa.
Adivinhem? Chegava mais gente. Estávamos cercados. Para que tanta perna, meu Deus?, ecoavam, drummondianos, os olhos e a cabeça.
Ainda assim pedimos um prato de profiteroles, dispensável. Liquidamos as últimas gotas do espumante e nem mais conseguíamos conversar de um lado a outro da mesa, tamanho o barulho.
Ao redor, o pessoal se divertia, feliz. Todos se olhavam, eram olhados, até nos olhavam. Sentindo-se ou não inserido no contexto, era inevitável perceber que tudo sugeria alegria, a boa e velha prova dos nove.
Quando saímos, lembramos mais uma vez de algo importante, mas tantas vezes esquecido: o Spot é um restaurante que funciona bem e serve comida boa.
Mesmo para quem não vê bem, nem quer, ou merece, ser muito visto.
Alameda Ministro Rocha Azevedo, 72, Cerqueira César, SP
tel. 11 3289 1247
Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Spot