Nem pretendia ir ao Picchi na RW. O menu não tinha me atraído.
E hoje tampouco pretendia comer fora. No máximo, arriscaria o Marcel, assim que abrisse, para evitar fila.
Mas uma mudança de planos domésticos me deixou sozinho para o almoço, às 13h15 do feriado. Tarde demais para o Marcel. Pensei no Picchi e alterei o caminho para passar defronte: se não tivesse espera, pararia. Caso contrário, comeria em casa.
Com só um terço das mesas ocupado, entrei e sentei.
Aceitei o couvert – que é dos poucos que de fato valem a pena. Mas não valeu. Nem o pão nem o bolinho salgado, normalmente excelentes, estavam frescos. Fiquei ressabiado. E a desconfiança aumentou quando reparei que o chef estava sentado no bar. Atento ao movimento, mas fora da cozinha.
Pedi uma cerveja e, de entrada, a polenta com roquefort. Então, as coisas começaram a mudar. Polenta saborosa, com roquefort diluído em creme, mas ainda assim marcante. A pimenta seca não deixava o prato picante, mas dialogava bem com o queijo.
De principal, fiquei com o raviolini recheado com carne e legumes ao burro e sálvia. E lá estava a boa massa que é marca da casa e que tem raros equivalentes na cidade – nenhum no bairro. A sálvia dava frescor e adocicava suavemente o prato.
Na hora da sobremesa, o garçom me ofereceu uma terceira opção – além das duas indicadas no menu da semana: crostata de maçã. Valeu a pena escolhê-la: crocante e saborosa.
A flexibilidade, aliás, é algo que, aparentemente, só oferece quem leva a RW a sério. Na mesa ao lado, uma senhora pediu para trocar o molho que acompanhava o penne e o maitre não titubeou: assentiu sem mais delongas.
Enquanto almoçava, aumentou a clientela, que atingiu ¾ das mesas. Tomei o café e saí de lá satisfeito. Na porta, o chef, ainda no bar, agradeceu a visita e eu fiquei com vontade de perguntar a ele por que o Picchi não fica lotado o tempo todo. A qualidade da casa e a consistência da cozinha mereciam mais atenção de uma cidade que, ao menos em tese, preza a comida italiana.
Claro que não perguntei. Ele não saberia a resposta. Nem eu sei decifrar os maus mistérios de São Paulo.
Rua Jerônimo da Veiga, 36, Itaim, São Paulo
Tel. 11 3078 9119
Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Picchi