Soa quase como uma afetação chamar de trattoria a Trattoria, nova casa Fasano, aberta há uns meses em São Paulo.
O salão não é de trattoria, o serviço não é de trattoria, o estilo não é de trattoria e, obviamente, os preços não são de trattoria.
O cardápio, sim. Tradicional até a medula, reproduz a mistura de pratos regionais italianos que caracteriza os menus das trattorie, ou das cantinas, paulistanas.
Já os resultados, pelo menos no que tange aos pratos que experimentamos numa única visita, ficam a meio caminho: não equivalem —com a graça do Altíssimo— aos das trattorie paulistanas, mas tampouco empolgam. É fácil lembrar de dois ou três restaurantes paulistanos que ofereçam resultados melhores, e a preços mais baixos.
Na Trattoria Fasano, meu espaguete aos frutos do mar veio com muitos camarões, mas unanimemente além do ponto. Marisco, havia um único —solitário, o pobrezinho, abandonado pelos colegas— e três anéis finos de lula. Lembrando o que ocorre nas trattorie, o molho proliferava, exagerado, a ponto de o espaguete acabar bem antes dele.
Melhor era o tagliatelle no ragu de cordeiro: massa fresca, no ponto, com molho consistente, aromático e saboroso —até mais aromático do que saboroso. O polpettone ao forno, macio e intenso, recheado com uma camada fina de mussarela de búfala, estava ótimo e leve. Um bom espinafre refogado o acompanhava —acompanhamento, diga-se de passagem, pedido à parte.
O tiramisù e a pastiera di grano foram servidos gelados e estavam agradáveis —nada além disso, nada próximo do que a imprensa gastronômica acostumou-se a chamar de “padrão Fasano”.
Acho que não tomamos as oito garrafas de água que nos cobraram, mas o bom e velho sistema paulistano (não utilizado nas trattorie; apenas nos restaurantes chiques ou candidatos a) de manter a garrafa distante da mesa e o copo do cliente continuamente cheio impede qualquer cálculo mais preciso.
Na carta de vinhos não havia exemplares com preço abaixo de três dígitos e nenhum rótulo da Sicília (o único listado não estava disponível).
Também a safra do vinho servido não coincidia com a indicada na carta (e, no caso, a diferença era relevante): taí algo que pode ocorrer numa trattoria.
Por outro lado, não conheço trattoria que cobre 13,8% de serviço, nem que os cobre inclusive sobre o custo do estacionamento —o antigo e errado serviço sobre serviço.
No balanço geral, o jantar foi de razoável a bom no paladar, de ruim a péssimo no bolso. A impressão geral é que a comida da Trattoria Fasano não lembra, nem de longe, a das casas principais da marca: Gero, Parigi, Fasano.
E definitivamente: o nome não combina com o lugar e o lugar não combina com os novos ares que os restaurantes de São Paulo parecem querer assumir: menos pompa e afetação, melhor relação custo-benefício.
Trattoria Fasano
Rua Iguatemi, s/nº, Itaim, SP
tel. 11 3167 3322
22/06/2014 às 17:04
Oi Alhos,
Já fui várias vezes à Trattoria – não que eu ache a comida excepcional – mas porque é relativamente perto da minha casa, o ambiente bonito e o atendimento, bom.
Ultimamente tenho comentado com as pessoas (inclusive uma amiga que me perguntou outro dia justamente sobre a Trattoria) – que tem sido raro eu comer uma refeição ótima em qualquer lugar que eu vá…
Então eu tenho me conformado que sairei para comer razoavelmente bem, pagar caro – mas papear com os queridos em ambientes agradáveis.
Certeza que muita gente se surpreende com essa minha resposta. E mais: tenho dito que comida boa faço eu (Hahahahaa), mas as companhias é que valem a felicidade e a distração.
Acho que estou desmotivada com o comércio da comida. Não sei. O certo é que está absurdamente caro sair para comer em São Paulo, e nas grandes cidades brasileiras. É uma grande pena.
Grande beijo!!
22/06/2014 às 18:07
Lena,
tudo bem?
Concordo plenamente: está muito caro comer em São Paulo, e dificilmente se come de fato bem.
Mas concordo, sobretudo, com a observação sobre sua comida: é ótima.
Beijos!
22/06/2014 às 20:15
Alhos, tudo bem ?
Perfeito relato sobre esse restaurante, confirmando que não merece a atenção devida se temos outras boas opções com as mesmas propostas.
E me impressiona o descaso com as cartas de vinho que vimos com frequência por aí. E fora a insistência em manter os preços das garrafas nas alturas, desestimulando o consumo.
Abraço,
22/06/2014 às 21:48
Luiz,
tudo bem?
Obrigado.
Estranho, no caso, é que o relativo descaso venha de onde vem.
Abraços!
23/06/2014 às 20:36
Golpe! Tomei um malho neste estabelecimento. Não é bom, é apenas um signo de prestígio.
24/06/2014 às 10:10
Ribas,
tudo bem?
É muito ruim, quando se sai de uma refeição, sentir que foi desagradável. Lamento muito.
Abraços!
24/06/2014 às 19:40
Já não tinha vontade de visitar a Trattoria – minha intuição me dizia que não valeria a pena. Confiando na sua avaliação como confio, não tenho mais dúvidas de que não vale.
25/06/2014 às 08:48
Constance,
obrigado pela confiança, que – você sabe – é recíproca.
A julgar por essa visita, de fato não vale.
Beijos!
08/08/2014 às 23:30
É muito ruim
09/08/2014 às 15:30
“Como fazer”,
tudo bem?
Não achei muito ruim, mas, a julgar pela refeição que fizemos, a relação custo/benefício é péssima.
Abraços!