Ultimamente as hamburguerias —nome estranho, convenhamos— proliferam por São Paulo. Boas ou ruins, sofisticadas ou banais.
E eu gosto de hambúrguer. Tanto o bacana, com carne especial e cheio de bossa, quanto o mais óbvio, na chapa, com alface e tomate. Só imponho uma condição: que seja bom e valha o que custa. Dos nove aos quarenta reais, tem que valer.
Dos da chapa, no velho estilo, meu favorito é o do Hobby da Cardoso de Almeida. Para os mais elaborados, recorro a três lugares, exatamente nessa ordem: 210 Diner, St. Louis e Ritz. Experiências em outras partes nem sempre foram bem sucedidas.
No meio de tanto hambúrguer e de tanta hamburgueria —sim, o nome é estranho, por mais que tenha virado moda o uso desse sufixo para tudo—, resolvi finalmente conhecer uma que não é nova, mas aonde, sei lá por quê, nunca tinha ido: a Hamburgueria Nacional.
Oito e meia da noite de um sábado e um dos dois amplos salões já estava quase todo ocupado. Meia hora depois, o outro também ficaria cheio.
Sobre a mesa, um aviso anunciava que o sanduíche de lá havia sido considerado o quarto melhor do mundo. Minha mulher e eu estávamos de bom humor e, por isso, ignoramos a insólita peça publicitária. Não importa que periódico tenha feito a eleição; qualquer pessoa consegue facilmente imaginar que é impossível comparar hambúrgueres do mundo inteiro —um ranking mundial, portanto, soa estapafúrdio.
A estrutura do cardápio leva o cliente a montar seu próprio hambúrguer. Parte-se da carne —tipo e tamanho preferidos— e acrescentam-se os complementos: queijos, molhos, etc. Novamente o bom humor nos salvou. Não ligamos para o fato de que não havia, na prática, uma proposta da casa para o sanduíche e compusemos os nossos.
Pedi com queijo de Minas; minha mulher, com queijo suíço. Para provar: maionese de wasabi e barbecue. Acompanhamento: uma porção de mandioca frita.
Chegaram os lanches e o bom humor teve que resistir à carne além do ponto e de sabor inexpressivo. A fortíssima maionese de wasabi e o concentrado barbecue encobriam qualquer outro sabor do qual se aproximassem; abandonamos os dois. No outro extremo, o queijo de Minas não revelava qualquer gosto.
Diferente era a mandioca frita, que era puro bacon: no sabor e no cheiro. Perguntamos à garçonete por que ela não avisara que o acompanhamento era preparado com bacon e, para nossa surpresa, ela respondeu que não era. Gentil, ofereceu uma resposta ao nosso espanto: “devem ter usado a mesma fritadeira em que fritaram bacon e daí fica o gosto”.
Ah, bom… Mas o humor resistiu: como reclamar diante de explicação tão prosaica e sincera?
O serviço, de fato, era a única coisa que escapava na experiência mal sucedida. Gentil, atenciosa, a garçonete ainda nos recomendou o sorvete, artesanal e terceirizado, de que “nunca ninguém reclamou”.
Claro que não seríamos os primeiros a reclamar, embora os dois sabores que pedimos —morango e chocolate— estivessem ruins. A moça também não reclamou do fato de termos deixado os sorvetes quase inteiros e assim ficamos quites.
Ligeiramente desconcertados com todos os problemas que cercavam o hambúrguer eleito por alguém como o quarto melhor do mundo, pegamos o carro e fomos embora. Por incrível que pareça, de bom humor.
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