Temos um casal de amigos muito bacana. Pessoas adoráveis, inteligentes, boas de conversa. Encontramos pelo menos duas ou três vezes por mês, quase sempre para beber e comer.
E aí é que as coisas se complicam. Porque eles não admitem pagar demais por um jantar. Demais, no caso, é qualquer valor que ultrapasse uns oitenta – no máximo cem – reais por pessoa.
A melhor opção, então, é ficarmos aqui em casa e comermos a maravilhosa comida preparada pela minha mulher.
A segunda opção é pedir a clássica pizza – e, nesse caso, quase sempre temos sucesso e garantimos uma boa procedência.
Duro é quando eles insistem em comer outra coisa.
Ontem, por exemplo, vieram aqui para casa e queriam comer massa. Não tinham vontade de sair e não dava tempo para preparar. A solução? Pedir pelo telefone.
Ponderamos que, aqui nos Jardins, não há entrega de massa decente. Como não?, reagiram, Tem o Sargento e a Lellis.
Contra-argumentamos sem sucesso.
E lá veio a massa da Lellis. Um capeletti de recheio absolutamente inidentificável, cozido muito além do ponto e com um molho – bem, deixa para lá. Não dava para comer.
Melhor, o caneloni. A ricota era comestível. Mas o molho… Bem, deixa de novo para lá.
E um filé com brócolis e batatas coradas. Não sei se erraram na entrega ou se era assim mesmo. Uma milanesa sem gosto e gordurosa, coberta por um molho branco engrossado com (muita) maisena e… brócolis. Sei lá o que houve com as batatas.
E não foi a primeira vez. Já comemos, sempre com eles, massas e carnes da Giggio e do Michele. No mesmo padrão.
Eles sempre adoram. Nós, para não parecermos metidos à besta, silenciamos. Minha filha abandona logo o prato, minha mulher e eu nos entreolhamos e lembramos, silenciosamente, de tantas massas boas que há por aí: a do Picchi, por exemplo.
Eles vão embora e a dúvida fica: em que triste labirinto foi parar a comida de carregação das trattorias paulistanas? E como se justifica o gosto do paulistano por elas?
Sinceramente, não sei.