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Cantina? Sim

18/11/2008

Que me desculpe quem não gosta, mas couvert é fundamental.

Não precisa ser exagerado como os da rede Rubaiyat. Ao contrário: é bom que seja simples.

Mas precisa ter estilo. Por exemplo, o confit de galeto e os chips de alho porró do Sal ou o bolo salgado e o molho de tomate fresco do Picchi.

Pode ser só azeite e pão. Azeites de primeira, e basta. O duo de azeites do Eñe, por exemplo, ou o ótimo trio do La Table O..

Ou, ainda, a manteiga caseira do Divina Itália, um restaurante que pouca gente conhece e é uma das poucas boas cantinas de São Paulo.

Fica numa casa da Mourato Coelho, em Pinheiros, com um quintal bem gostoso no fundo.

No couvert, além da manteiga, que é deliciosa, vem uma sardella suave, pão italiano quente e maionese de berinjela.

É quase sempre cheio no almoço, com seu cardápio que reúne carnes e massas. Bem mais tranqüilo no jantar, quando o cardápio é melhor cuidado e conta com criações mais elaboradas do chef Franco.

De qualquer forma, de dia ou de noite, você consegue comer uma massa no ponto (al dente, em bom português), com ingredientes frescos e bem empregados.

Para usar um exemplo óbvio, mas quase sempre negligenciado: o manjericão, um dos centros da cozinha italiana, é usado como deve ser; portanto, jamais levado ao fogo.

O nhoque com rúcula e queijo branco é delicado e saboroso. A pallota de alho porró e brocoli, também. Ou o penne (grano duro) com manjericão fresco. Ou o sfogliato de frango (que utiliza, sobretudo, a carne escura).

Numa das visitas, o garçom cometeu dois erros: informou que o penne era fresco; não era. E trocou o molho de um dos pratos, trazendo molho branco no lugar do desejado molho de queijo branco.

Mas isso não desmerece o bom & barato do lugar – ampliado pela decoração discreta do interior da casa e pela tranqüilidade do quintal.

Divina Itália

Rua Mourato Coelho, 789, Pinheiros, SP

tel. (11) 3814 3344

Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Divina Itália

Cantina? Não, obrigado

18/11/2008

Cantina, na Itália, é adega.

Cantina, em São Paulo, virou sinônimo de comida barata, farta e… ruim.

A decoração oscila entre o desleixo e o horror. Na primeira categoria, estão as que usam toalhas rasgadas, guardanapos de papel e copos de quinta categoria. Na segunda, as terríveis camisas de time de futebol penduradas no teto (adoro futebol, mas em campo, não no jantar) ou, pior, o kitsch alucinado dos metais e das cores retumbantes.

Outra marca caricatural das cantinas paulistanas é o serviço íntimo. Tapinhas nas costas, piscadelas e, às vezes, até um palavrãozinho – só para quebrar o gelo.

Na verdade, tudo isso tem uma intenção explícita: a de sugerir “autenticidade”. Não sei quem foi que concluiu que autenticidade implica grosseria e vulgaridade, mas a idéia pegou. Embora seja difícil descobrir o que, ali, é “autêntico”.

 

Afinal, as cantinas paulistanas teoricamente servem comida italiana. Mas nenhum italiano, em sã consciência, se julgaria representado por aqueles pratos.

Mas tudo isso seria (dificilmente) suportável se a comida fosse boa. Dificilmente é.

O couvert é exagerado, as entradas mal preparadas e as pastas chegam, em geral, muito (muito) além do ponto e regadas com um prolífico molho de tomate para lá de azedo ou com queijos que quase derrubam o prato, de tão pesados.

As carnes são um caso peculiar: vitela, cordeiro e cabrito têm o mesmo gosto. Os peixes vêm torrados ou, pelo menos, uns dez minutos além do ponto.

Para a sobremesa, algum doce terceirizado, mantido em geladeira há mais de uma semana. Café ralo, claro.

Ok, fiz uma caricatura, nem todas são assim. Há exceções.

E essas exceções devem ser celebradas. Porque nesses lugares você pode comer decentemente a um preço de… cantina.

A Divina Itália, em Pinheiros, é uma delas. O Nonno Ruggero é outra.

Sim: sei que você deve estar pensando que Nonno Ruggero não é cantina. Pois lhe digo que é, mesmo se parece tão diferente da imagem habitual que temos delas.

Em breve escreverei sobre ambos. São dois modelos diferentes entre si, mas lugares desejáveis, agradáveis, onde se come bem. Ponto.

Se queremos que nossas cantinas sejam restaurantes – e não adegas – que pelo menos as façamos direito.