Há certos restaurantes que coloco na categoria “de segurança”. São aqueles aonde vou quando quero ter certeza de uma refeição prazerosa.
Alguns deles são muito bons e muito caros. Outros são muitos bons e com preços razoáveis. E outros dificilmente apareceriam nas listas dos melhores de São Paulo, mas sei que sairei de lá satisfeito.
Nem tinha pensado que o Julia era um destes quando fiz a reserva para provar o menu que ofereciam na RW. Muito menos supunha que enfrentaria três decepções completas ou relativas antes de ir lá.
E foi com as barbas de molho que saímos, ontem à noite, a caminho do Itaim.
Chegamos às 19h50 e a casa estava vazia. Por dois ou três minutos. Imediatamente chegaram diversas outras mesas, todas prováveis reservas para as 20. Numa delas, deficientes auditivos. Em outra, quatro casais que já haviam passado dos 70. O salão não lotou, mas ficou bem tomado.
Dispensamos o couvert e pedimos uma porção dos pasteis assados no forno a lenha: dois de pato com shimeji, um de galinha d’angola e outro de berinjela (em visitas anteriores, a berinjela vinha junto com queijo de cabra – e, apesar de eu adorar caprinos em geral, a combinação não funcionava). Todos bons e com aquele cheirinho de lenha que ajuda a temperar um petisco.
Perguntamos ao garçom sobre o molho de tomate picante que acompanhava a lula com polenta da entrada e ele se prontificou a mudá-lo para que minha filha pudesse comer o prato. E as lulas (que também comi, mas na versão original, picante) chegaram macias e saborosas. A polenta, ligeiramente grelhada, combinava bem. Uma delícia.
Minha mulher preferiu o pupunha na brasa com cogumelos, que estava igualmente bem preparado.
A dona e três garçons circulavam entre as mesas e atendiam com presteza. Na mesa dos velhinhos (ops, idosos), uma garçonete os chamava, com atenção e sem afetação, de “meninas” e “meninos” e cuidava para que não faltasse nada.
Minha mulher e filha preferiram, como principal, a tainha com crosta de ervas e legumes. O peixe, embora saboroso, estava mais passado do que deveria e havia excesso de pimentão entre os legumes. Mas nada que desqualificasse o prato.
Meu pernil cordeiro na lenha estava ótimo, acompanhado de purê de batata – não homogeneizado – com alho-porró.
Além das águas, bebemos um Le loup dans la bergerie, por honestíssimos 65 reais (10 a mais do que na importadora). A carta de vinhos, pequena, mas variada, merece destaque.
Dentre as sobremesas, a tortinha de cupuaçu com boursin era crocante e destacava o gosto da fruta (esse doce também já foi preparado com queijo de cabra, mas a cabra vencia o cupuaçu, desequilibrando). A torta de frutas era boa, y no más.
Fechamos com o bom café pessegueiro, num curto bem tirado.
Em bom português, Julia salvou a lavoura da nossa RW.
Não havia filas, sistema de reservas atrapalhado, gente alucinada para provar a comida.
Havia bons ingredientes, preparo cuidadoso, serviço gentil e disponível. E comida muito boa pelos preços reduzidos da RW.
Havia seriedade, honestidade e inteligência.
Rua Araçari, 200, Itaim, SP
Tel. 11 3071 1377
Como chegar lá (Guia 4 Cantos): Julia